O lendário cineasta sueco Ingmar Bergman, que influenciou gerações de cinéfilos com suas obras sombrias sobre temas como a morte e os tormentos sexuais, morreu aos 89 anos. Sua filha Eva disse à agência sueca de notícias TT que o diretor e roteirista autodidata morreu em sua casa, na ilha de Faro, no Mar Báltico, na Suécia.
Considerado por alguns críticos
como o maior cineasta da história, Ingmar Bergman exorcizou sua infância
traumática por meio de obras-primas do cinema que exploraram a ansiedade sexual,
a solidão e a busca por um sentido na vida.
Numa carreira que cobriu meio
século e durante a qual ele criou mais de 50 filmes e 125 produções teatrais,
Bergman tornou-se a mais aclamada personalidade cultural da Escandinávia.
Filmes como "Morangos silvestres", "Cenas de um casamento" e seu grande
clássico "Fanny e Alexander" o
elevaram à condição de um dos maiores mestres do cinema, mas conferiram à
Suécia, seu país, a fama de melancólica.
Sua vida privada o levou a ser alvo
da atenção pública em vários momentos. Bergman, que não tem nenhuma relação de
parentesco com a famosa atriz Ingrid Bergman, teve cinco casamentos com
mulheres belas e talentosas, além de várias relações amorosas com suas atrizes
principais.
Ele influenciou dezenas de
cineastas, incluindo Woody Allen, que o idolatrava e que homenageou "O sétimo
selo", um dos clássicos do cineasta sueco, com sua comédia "A última noite de
Boris Grushenko."
Numa homenagem feita a Bergman no
70o aniversário deste, Allen disse: "Sobretudo há Ingmar Bergman, que, tudo
considerado, é provavelmente o maior artista do cinema desde a invenção da
câmera cinematográfica."
Infância
difícil
Ernst Ingmar Bergman nasceu em
Uppsala, Suécia, em 14 de julho de 1918. Seu pai, pastor luterano que tornou-se
capelão do rei da Suécia, costumava humilhar e surrar Ingmar, uma criança
doente.
Bergman falou várias vezes do amor
profundo que nutria por sua mãe, de seu hábito de refugiar-se em fantasias e de
seu gosto pelo macabro.
Críticos atribuem os temas de
repressão, culpa e castigo, constantes em sua obra, à educação rígida que o
diretor teve em sua infância.
Em entrevista rara concedida em
2001, Bergman disse à Reuters que durante toda sua vida ele foi atormentado e
inspirado por demônios pessoais. "Os demônios são inúmeros, aparecem nos
momentos mais impróprios e geram pânico e terror", disse ele na época. "Mas já
aprendi que, se consigo controlar as forças negativas e atrelá-las a minha
carruagem, elas podem trabalhar em meu benefício."
Nunca o vínculo autobiográfico
ficou mais claro que em "Fanny e Alexander", que Bergman afirmou ser sua grande
final como cineasta. Produzido em duas versões, de três e de cinco horas, o
filme recebeu quatro Oscar em 1984, um deles de melhor filme em língua
estrangeira.
"Fanny e Alexander" é um panorama
detalhado de uma família de classe alta de Uppsala nos anos que antecederam a 1ª
Guerra Mundial. O garoto Alexander, dez anos, e sua irmã Fanny, de 8, são mental
e fisicamente abusados por seu padrasto, o bispo local, inspirado no pai de
Bergman.
O tímido e fraco Alexander usa
poderes sobrenaturais para vingar-se de seu padrasto de maneira sinistra.
Em seus últimos anos de vida,
Bergman dedicou-se ao trabalho de palco no Real Teatro Dramático de Estocolmo,
demonstrando preferência por obras teatrais clássicas.
O reconhecimento internacional
pleno chegou para ele com "O Sétimo Selo", de 1956, ambientado na Idade Média em
tempo de peste negra e mostrando um cruzado à procura de Deus e do sentido da
vida que joga xadrez com a morte. O filme recebeu o prêmio do júri do Festival
de Cannes em 1957.
Nos dez anos seguintes Bergman
criou "Morangos silvestres", "O silêncio" - que incluiu uma cena sexual forte
que provocou um choque com a censura sueca -,"A fonte da donzela" e "Através de
um espelho". Os dois últimos receberam o Oscar de melhor filme em língua
estrangeira.
Homem esguio, com nariz adunco e
hábito de vestir roupas folgadas, Bergman não era bonito pelos padrões
convencionais, mas as mulheres se sentiam atraídas por ele.
Suas quatro ex-esposas, entre as
quais uma dançarina, uma diretora e uma pianista, continuaram a elogiá-lo depois
de separadas dele, como também faziam as atrizes com as quais ele teve romances,
entre elas a norueguesa Liv Ullmann, sua companheira no final dos anos 1960.
Sua quinta esposa foi a elegante
condessa Ingrid von Rosen, com quem se casou em 1971 e que se tornou sua
empresária. O cineasta teve nove filhos: quatro meninos e cinco meninas.
Em janeiro de 1976 ele foi preso
durante um ensaio do Real Teatro Dramático por policiais à paisana, que o
levaram para ser interrogado sobre suposta sonegação de impostos.
Ele não chegou a ser formalmente
acusado, mas a humilhação que sentiu o levou a sofrer um colapso nervoso.
Condenando publicamente à burocracia sueca, ele deixou seu país para viver um
longo exílio artístico em Munique.
Em 1984 Bergman retornou ao Real
Teatro Dramático com uma versão aclamada de "Rei Lear." No ano seguinte ele pôs
fim a seu exílio auto-imposto e passou a produzir uma sequência de obras
clássicas no teatro nacional. Sua última produção cinematográfica foi
"Saraband", um drama familiar feito para a televisão em 2003, altamente
elogiado.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/morre-diretor-ingmar-bergman-4165701#ixzz1vFIeFAR8
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