terça-feira, 31 de março de 2009

195- SPORT TV-REPÓRTER- XADREZ PODE MUDAR SUA VIDA!

O SPORT TV da NET, canal 39 (SPORT TV1) ou 38 (SPORT TV2) passará neste sábado, 22:30h, importante e emocionante reportagem sobre como o milenar jogo de xadrez ajuda a muitos brasileiros.

Quem tiver NET não percam!

domingo, 29 de março de 2009

194- E o vencedor foi......Maiakowsky!

Passei um ótimo fim de tarde de domingo com o craque do solucionismo Roberto Stelling (recomendo que meus diletos leitores leiam a entrevista que fiz com ele-postagem nº 174) e sua simpática família. Fui bater um papo com o amigo e buscar meu prêmio (um excelente livro de finais) relativo à Semana de Aniversário, concurso promovido pelo Roberto no seu blog (veja na lista de links)!!

Obrigado, Stelling!

Boa semana a todos!

E não me esperem para a colheita, pois estarei semeando!! :)

sábado, 28 de março de 2009

193- Como desaparecer completamente

No show do Radiohead

Aquele ali não sou eu. Eu vou aonde quero. Eu atravesso paredes. Eu flutuo pelo Canal do Mangue. Eu não estou aqui. Isso não está acontecendo. Eu não estou aqui. Antes do Radiohead tocar "How to disappear completely", diante dos meus olhos, nesta Praça do Apoteose, na sexta-feira, 20 de março de 2009, os versos se materializavam na cabeça. Eu não estou aqui. Estou em outro lugar. Aonde só a grande música pode me levar.
Entre efeitos de luz e alto-falantes no estado da arte, Thom Yorke, Ed O´Brien, Phil Selway, Johny e Colin Greenwood atacam "The national anthem". Atacam é verbo escolhido a dedo. As guitarras são sirenes que alertam para o bombardeio tocado pelo baixo e pela bateria. Não há abrigo possível. É uma das minhas favoritas. Parece "Whole lotta love" do Led Zeppelin. Parece "Bullet the blue sky", do U2. Só que melhor.
Nada havia me preparado para isso. Em "Kid A", o álbum, "The national anthem" era mais intrincada, quase free jazz graças aos instrumentos de sopro. No palco, a energia do quinteto compensa a ausência dos metais. Nada havia me preparado para isso. Cheguei com um pé inteiro mais um calcanhar atrás, com medo de me decepcionar. Ja aconteceu-me antes, por exemplo, aqui mesmo, na Apoteose, com um David Bowie de radinho de pilha.
Li que o show do Radiohead era "profissional", no mau sentido, até "frio". Desde a primeira música, "15 step", nota-se que é profissional, sim, no bom sentido. No nível do som, na definição do telão, nas estalactites de luz. Mas frio..."There there" logo prova que não. Percussão quase pura. O´Brien e Jonny batendo tambor com Selway. Claro, sempre haverá quem ache "chato". Mas para quem tem dificuldade de se relacionar com a tristeza da vida sempre haverá as baianas pernudas e suas canções cheias de onomatopeias.
Antes do Radiohead, a temperatura estava estranha para março. O Kraftwerk fez uma versão condensada do show de 2004 no TIM Festival, gélida, coisa de se esperar dos alemães. Antes ainda, Los Hermanos, estavam meio fora de forma, mornos, coisa de se esperar de quem está parado há dois anos. Não o Radiohead. Descubro que ele consegue ser cabeça e quente, simultaneamente. Nada havia me preparado para isso, acho que já disse.
O Radiohead plana por "No surprises", "Videotape", "Paranoid android"... E comprova, aqui e agora, porque é a mais importante banda de música popular em atividade neste planeta. O termo "rock" só se aplica ao Radiohead como conceito vampiresco, expansionista, não como delimitação musical. Em transe estético, dou 10, nota 10, em todos os quesitos: aparato técnico, garra, repertório, dinâmica, inventividade. No palco como nos discos, as suas músicas nunca terminam do jeito que começam: elas se reinventam.
Na vã tentativa de me preparar para isso, eu tinha ouvido atentamente os dois únicos registros oficiais do Radiohead ao vivo. Primeiro, "I might be wrong live recordings", lançado em 2001. Um de seus pecados era ser curto demais, 40 minutos, oito músicas. Todas tiradas de "Kid A" e "Amnesiac", álbuns siameses separados no estúdio, experimentais, geniais. Todas menos "True love waits", linda. "O verdadeiro amor espera em sótãos assaombrados"? Brrrrr. O outro pecado foi costurar retalhos de quatro shows, Oxford, Berlim, Vaison, La Romaine. Ficou sem a dinâmica da apresentação ao vivo.
O segundo disco oficial do Radiohead ao vivo só veio à luz no ano passado, apenas na Holanda, pelo selo Immortal, mas foi registrado na mesma excursão em que "I might be wrong". É um duplo chamado "Radiohead rocks Germany 2001". A banda sacode a Alemanha na noite de 1º de junho, num festival de Nurburg. Traz 22 músicas e, embora às vêzes a voz e o violão estejam um tanto à frente dos demais, soa de fato, como um show completo e íntegro. Abre com "The national anthem" e fecha, 108 minutos depois, com "How to disappear completely". Chega mais perto deste êxtase no Catumbi.
Ainda assim, nada havia me preparado para isso. Até "Radiohead rocks Germany 2001" aparecer também em DVD, o Radiohead não tinha audiovisual oficial decente, a não ser por...um show muito das antigas, "Live at the Astoria", de 1994. Uma coletânea de velhos clips, "7 television commercials", de 1998. E um documentário enigmático, sem músicas completas ou entrevistas, "Meeting people is easy", de 1999. Coerente com esse telão mesmerizador na Apoteose, que esconde mais do que revela os músicos em ação.
Seja como for, o DVD de um show sempre será uma fraude consentida. Um disco de áudio ao vivo é mais fiel a um show do que a sua filmagem. Permite-me viajar, imaginar o palco, recriar, participar. O DVD pode ter som Dolby 5.1, imagem HD, extras, o cacete, mas não me dá esse pancadão no meio dos peitos, não replica a magia da presença física dos caras ali adiante. Após tantos anos, tantas leituras e releituras na faculdade, agora que o Radiohead fecha o show com "Creep", acho que afinal entendi o Walter Benjamin.
Certas coisas não se reproduzem. Daí essa sensação de eu não estar aqui, de isso não estar acontecendo, de eu não ter desaparecido completamente no meio de uma multidão de 20 mil devotos, de o momento já ter passado, bom demais para ser verdade. Então, aquele ali que não sou eu chora e tem aquela convulsão peculiar da cintura para cima, acompanhada de tremedeira no pe direito, um treco que se chama de dança.

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Reproduzi acima a coluna do ótimo Arthur Dapieve, publicada no O Globo, dia 27/03/09, Segundo Caderno, página 6. Eu fui um dos vinte mil devotos da noite de 20 de março na Apoteose e, por isso, comungo com as sensações do autor do texto.

Bom fim de semana a todos!

quarta-feira, 25 de março de 2009

191- Novo Lançamento da Livraria Ciência Moderna!


Dominando as Aberturas de Xadrez Volume I - Desvendando os mistérios das aberturas do xadrez moderno
John Watson
504 páginas - 1ª edição -2009
Para muitos jogadores de xadrez, o estudo da abertura é um trabalho muito pesado. É difícil saber o que é e não é importante e quando o conhecimento específico é vital ou uma compreensão mais geral é suficiente. Com uma freqüência trágica, assim que a abertura acaba, o jogador não sabe qual plano seguir ou mesmo compreende porque suas peças estão em determinadas casas. John Watson procura ajudar os jogadores de xadrez a conseguirem uma visão mais geral e criteriosa das aberturas. Em seus livros anteriores sobre a estratégia do xadrez ("Secrets of Modern Chess Strategy-since Nimzowitsch" e "Chess Strategy in Action"), ele explicou conceitos vitais que caracterizam o xadrez moderno. E mais, fez isso de modo que permitia que essas idéias fossem compreendias pelos jogadores de clube. Aqui, ele faz o mesmo para as aberturas, procedendo desde as idéias fundamentais que se aplicam a todas as aberturas, até as idéias mais avançadas que são essenciais para uma melhoria substancial. Neste trabalho maior com três volumes , Watson explica não somente as idéias e as estratégias por trás de aberturas específicas, como também as interconexões das aberturas do xadrez vistas inteiramente. Apresentando os encadeamentos comuns sob o jogo na abertura, Watson fornece uma base permanente para jogar qualquer tipo de abertura. O volume 1 ,agora em português, trata das aberturas com o peão do rei, o volume 2 das aberturas com peão da dama e o volume 3 trata da abertura inglesa.

O mestre internacional John Watson é um dos escritores mais respeitados do mundo no xadrez. Seu trabalho inovador estabeleceu firmemente sua fama nos anos 80 e ele tem produzido uma linha de trabalhos de alta qualidade desde então. Em 1999, Secrets of Modern Chess Strategy-since Nimzowitsch, o primeiro livro de Watson para a Gambit, ganhou o prêmio do Livro do Ano da British Chess Federation e o prêmio Fred Cramer de melhor livro da United States Chess Federation. Seus primeiros alunos incluem o campeão mundial júnior de 1997, Tal Shaked.
Mais informações aqui

terça-feira, 24 de março de 2009

190- Oposição pedirá uma nova eleição

Abaixo notícia publicada hoje no O Globo, página 27

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Advogada afirma que pleito, realizado em Manaus, desrespeitou decisões de dois juízes.

A Oposição nas eleições para a presidência da Confederação Brasileira de Remo (CBR), liderada por Wilson Reeberg, vai pedir à Justiça a anulação do pleito de sábado à noite, num hotel em Manaus, e a realização de outro. Na assembléia, foi reeleito pela quinta vez o presidente Rodney Bernardes de Araújo.
Segundo a advogada da Oposição, Flávia Pacheco Sampaio, a assembléia foi nula, uma vez que realizada em desrespeito à liminar de 19 de março do juiz Egas Moniz Barreto, da 26ª Vara Cível do Rio e confirmada pela juíza Carla Maria Santos dos Reis, de plantão no Tribunal de Justiça do Amazonas.
-Amanhã (hoje), vamos relatar ao juiz da 26ª Vara Cível sobre o fato de sua liminar, que proibia a assembléia, ter sido descumprida-informou a advogada. -E isso, apesar de um oficial de justiça de Maranhão ter ido ao hotel entregar o documento ao presidente da Federação Amazonense, Aristóteles Gustavo de Almeida Neto. A assembléia é nula e não poderia ter sido realizada, com a liminar. Daí, pedirmos a anulação e nova eleição.
O candidato da Oposição, Wilson Reeberg, foi crítico:
-O que a Situação fez foi medir forças com a Justiça, por desespero de quem quer se manter no poder a todo custo.
Sem bons resultados internacionais nos últimos anos, o remo perdeu prestígio. Tanto que foi um dos esportes que passaram a receber do COB parcela menor dos recursos da Lei Agnelo/Piva em relação ao ano passado. Em 2008, a verba fora de R$ 1,708 milhão, e este ano, R$ 1,6 milhão.
O presidente Rodney não foi localizado ontem. Já o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) informou, através de sua assessoria, que aguarda a decisão da Justiça para analisar a situação.

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E agora o amado xadrez do RJ: é nesta 5ª feira, dia 26/03/09, em primeira convocação às 18h e 2ª convocação às 19h a AGE convocada por 5 clubes (ALEX, CXM, CFXC, PSXC e CXV) para discussão e deliberações acerca de temas delicados. Será na ALEX (Associação Leopoldinense de Xadrez), situada na Rua Álvaro Alvim, 48, sala 905, perto do metrô da Cinelândia, centro do Rio.

segunda-feira, 23 de março de 2009

189- Momento Maiakowsky de música!

Ainda impactado com o show de Radiohead na Apoteose, sexta-feira (sim senhores, o tio Maiakowsky é fã de Radiohead!), Maiakowsky inaugura o momento musical em seu blog. Posto a letra da primeira música da maravilhosa noite do dia 20/03, na abertura do show dos Los Hermanos.

Todo Carnaval Tem Seu Fim

Los Hermanos

Composição: Marcelo Camelo

Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

veja aqui o vídeo no YouTube

188- Descumprida decisão judicial! no remo....

Reproduzo abaixo notícia publicada hoje no O Globo, caderno de esportes, página 6 (vejam postagem anterior deste blog).

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LIMINAR SUSPENDIA VOTAÇÃO QUE DEU SEXTO MANDATO A PRESIDENTE

Descumprindo a liminar que determinava a suspensão da eleição para presidente da Confederação Brasileira de Remo (CBR), a assembléia geral da entidade reelegeu o atual presidente, Rodney Bernardes de Araújo, sábado à noite, em Manaus, para seu sexto mandato consecutivo. Rodney teve nove votos contra cinco da oposição.
Desde a manhã de sabado, um oficial de Justiça esteve no hotel onde se realizaria a votação para fazer cumprir a decisão. Durante todo o dia, o presidente da CBR não foi encontrado, e sequer compareceu à votação.
Apenas à noite, durante à assembléia, a liminar foi entregue ao presidente da Federação Amazonense de Remo, Aristóteles de Almeida Neto.
Na decisão judicial, o juiz Egas Moniz Barreto de Aragão Dáquer, da 26ª Vara Cível, havia cassado o direito a voto da Federação Amazonense.
Mesmo assim, a eleição se realizou, com o voto amazonense. Além da reeleição de Rodney Aráujo, foram aprovadas as contas da CBR referentes aos R$ 2 milhões gastos no ano passado.
O candidato de oposição, Wilson Reeberg, que impetrou o pedido de liminar para suspender a eleição, vai pedir ainda hoje a anulação do pleito.
-A eleição é ilegítima. Descumpriu decisão da Justiça. Além disso, houve coação. A Federação Amazonense pôs seis seguranças para nos intimidar, e, durante a assembléia, os presidentes de federação opositores ao atual presidente tinham a palavra cassada-disse Reeberg.
O presidente da CBR, Rodney de Araújo, não foi localizado para comentar sua quinta reeleição na CBR.

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Agora o amado xadrez: AGE, dia 26/03/09, quinta-feira, na ALEX (Associação Leopoldinense de Xadrez), rua Álvaro Alvim, 48, sala 905, Cinelândia, centro do Rio. 1ª convocação às 18:00h e 2ª convocação às 19:00h.
E atenção: vão arrumadinhos, asseados e limpinhos pois prometeram cinegrafista!! nada de camisas do Vasco (agora entendo bem o que Nelson Rodrigues queria dizer com "cretinos fundamentais"!! ganharam UMA em não sei quantas e parece que ganharam o Mundial de Clubes!)! Camisas do Mengão (viu PG?) também não póoooooode!
Arietes e afins póooooooooooooode!!!

sábado, 21 de março de 2009

187- Assembléia suspensa por liminar....no remo!!

Reproduzo abaixo notícia publicada hoje no O Globo, página 41 (grifos meus). É desdobramento de fato apontado em matéria no mesmo jornal (vejam postagem nº 179 de Maiakowsky).

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"Led, sed lex" no remo

A assembléia geral na qual Rodney Bernardes de Araújo tentaria hoje, em Manaus, o seu sexto mandato como presidente da Confederação Brasileira de Remo, foi suspensa por liminar concedida pela 26ª Vara Cível. O juiz Egas Moniz Barreto de Aráujo Daquer considerou, entre outras coisas, que "administrar não é usar recursos públicos ou trabalhar em causa própria, como se a finalidade fosse tão somente manter-se no poder".
No seu despacho, o juiz contesta o direito de voto da Federação Amazonense: "ao que tudo indica, ela existe apenas para votar na atual administração, recebendo em contrapartida as verbas que lhe são enviadas anualmente, ao que tudo indica, compensatórias".

A liminar foi impetrada pelo candidato de oposição, Wilson Reeberg, e defendida pelo escritório Vanuza Sampaio.
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Lembrete: dia 26/03, quinta-feira próxima, temos AGE, convocada por 5 clubes do amado xadrez do Estado do RJ. Será na ALEX (Associação Leopoldinense de Xadrez), situada na Rua Álvaro Alvim, nº 48, sala 905, Cinelândia. 1ª convocação às 18:00h e 2ª convocação às 19:00h.

quinta-feira, 19 de março de 2009

186- Miniaturas Notáveis X

R. Réti, 1928. Brancas jogam e empatam.

O diagrama acima é meio manjado por 99% dos enxadristas, acho que só o Vinícius Vilela não conhecia a idéia! :)
Este estudo inaugura as postagens de miniaturas clássicas só de reis e peões.
O célebre estudo de Réti causou verdadeira sensação no mundo enxdrístico. A idéia geométrica em que se baseia foi posteriormente aperfeiçoada várias vêzes mas o estudo original é impossível de superar pela pureza da forma. Rivaliza em fama com o estudo de Barbier, Saavedra (ver postagem nº 111 deste blog).

Bom fim de semana a todos!

quarta-feira, 18 de março de 2009

185- Miniaturas Notáveis IX

L. van Vliet, 1888. Brancas jogam e ganham.

Volto a postar as miniaturas (no máximo 7 peças no tabuleiro) notáveis, composições clássicas na história do xadrez.
O diagrama acima mostra uma das composições mais admiradas no mundo do xadrez. Parece que o peão está fortemente atado. Entretanto, o peão coroa! convido os diletos leitores a resolverem a composição.

184-QUEM A PACA CARA COMPRA, PACA CARA PAGARÁ

Recebi por e-mail de um amigo. Achei bonito e digno de uma postagem nº 184. Explicito, assim, um desejo de cordiais e respeitosas relações daqui para a frente.
Por fim, promovo (rs) minhas escusas por palavras tão duras, decerto injustas.


QUEM A PACA CARA COMPRA, PACA CARA PAGARÁ

(Peleja com Zé Pretinho dos Tucuns)

Apreciem, meus leitores,
Uma forte discussão,
Que tive com Zé Pretinho,
Um cantador do sertão,
O qual, no tanger do verso,
Vencia qualquer questão.
Um dia, determinei
A sair do Quixadá
- Uma das belas cidades
Do estado do Ceará.
Fui até o Piauí,
Ver os cantores de lá.
Me hospedei na Pimenteira
Depois em Alagoinha;
Cantei no Campo Maior,
No Angico e na Baixinha.
De lá eu tive um convite
Para cantar na Varzinha.
Quando cheguei na Varzinha,
Foi de manhã, bem cedinho;
Então, o dono da casa
Me perguntou sem carinho:
- Cego, você não tem medo
Da fama do Zé Pretinho?
Eu lhe disse: - Não, senhor,
Mas da verdade eu não zombo!
Mande chamar esse preto,
Que eu quero dar-lhe um tombo
- Ele chegando, um de nós
Hoje há de arder o lombo!
O dono da casa disse:
- Zé Preto, pelo comum,
Dá em dez ou vinte cegos
- Quanto mais sendo só um!
Mando já ao Tucumanzeiro
Chamar o Zé do Tucum.
Chamando um dos filhos, disse
Meu filho, você vá já
Dizer ao José Pretinho
Que desculpe eu não ir lá
- E que ele, como sem falta,
Hoje à noite venha cá.
Em casa do tal Pretinho,
Foi chegando o portador
E dizendo: - Lá em casa
Tem um cego cantador
E meu pai mandou dizer-lhe
Que vá tirar-lhe o calor!
Zé Pretinho respondeu:
- Bom amigo é quem avisa!
Menino, dizei ao cego
Que vá tirando a camisa,
Mande benzer logo o lombo,
Porque vou dar-lhe uma pisa!
Tudo zombava de mim
E eu ainda não sabia
Se o tal do Zé Pretinho
Vinha para a cantoria.
Á cinco horas da tarde,
Chegou a cavalaria.
O preto vinha na frente,
Todo vestido de branco,
Seu cavalo encapotado,
Com o passo muito franco.
Riscaram duma só vez,
Todos no primeiro arranco
Saudaram o dono da casa
Todos com muita alegria,
E o velhote, satisfeito,
Folgava alegre e sorria.
Vou dar o nome do povo
Que veio pra cantoria:
Vieram o capitão Duda Tonheiro,
Pedro Galvão, Augusto Antônio Feitosa,
Francisco, Manoel Simão,
Senhor José Campineiro,
Tadeu e Pedro Aragão.
O José das Cabaceiras
E o senhor Manoel Casado,
Chico Lopes, Pedro Rosa
E o Manoel Bronzeado,
Antônio Lopes de Aquino
E um tal de Pé-Furado.
Amadeu, Fábio Fernandes,
Samuel e Jeremias,
O senhor Manoel Tomás,
Gonçalo, João Ananias
E veio o vigário velho,
Cura de Três Freguesias.
Foi dona Merandolina,
Do grêmio das professoras,
Levando suas duas filhas,
Bonitas, encantadoras
- Essas duas eram da igreja
As mais exímias cantoras.
Foi também Pedro Martins,
Alfredo e José Segundo,
Senhor Francisco Palmeira,
João Sampaio e Facundo
E um grupo de rapazes
Do batalhão vagabundo.
Levaram o negro pra sala
E depois para a cozinha;
Lhe ofereceram um jantar
De doce, queijo e galinha
- Para mim, veio um café
E uma magra bolachinha.
Depois, trouxeram o negro.
Colocaram no salão,
Assentado num sofá,
Com a viola na mão,
Junto duma escarradeira,
Para não cuspir no chão.
Ele tirou a viola
De um saco novo de chita,
E cuja viola estava
Toda enfeitada de fita.
Ouvi as moças dizendo:
- Oh, que viola bonita!
Então, para eu me sentar,
Botaram um pobre caixão,
Já velho, desmantelado,
Desses que vêm com sabão.
Eu sentei-me, ele vergou
E me deu um beliscão.
Eu tirei a rabequinha
De um pobre saco de meia,
Um pouco desconfiado
Por estar em terra alheia.
Aí umas moças disseram:
- Meu Deus, que rabeca feia!
Uma disse a Zé Pretinho:
- A roupa do cego é suja!
Botem três guardas na porta,
Para que ele não fuja
Cego feio, assim de óculos,
Só parece uma coruja!
E disse o capitão Duda,
Como homem muito sensato:
- Vamos fazer uma bolsa!
Botem dinheiro no prato
- Que é o mesmo que botar
Manteiga em venta de gato!
Disse mais: - Eu quero ver
Pretinho espalhar os pés!
E para os dois contendores
Tirei setenta mil réis,
Mas vou completar oitenta
- Da minha parte, dou dez!
Me disse o capitão Duda:
- Cego você não estranha!
Este dinheiro do prato,
Eu vou lhe dizer quem ganha:
Só pertence ao vencedor
- Nada leva quem apanha!
E nisto as moças disseram:
- Já tem oitenta mil réis,
Porque o bom capitão Duda,
Da Parte dele, deu dez...
Se acostaram a Zé Pretinho,
Botaram mais três anéis.
Então disse Zé Pretinho:
- De perder não tenho medo!
Esse cego apanha logo
- Falo sem pedir segredo!
Como tenho isto por certo,
Vou pondo os anéis no dedo...
Afinemos o instrumento,
Entremos na discussão!
O meu guia disse pra mim:
- O negro parece o Cão!
Tenha cuidado com ele,
Quando entrarem na questão!
Então eu disse:
- Seu Zé, Sei que o senhor tem ciência
- Me parece que é dotado
Da Divina Providência!
Vamos saudar este povo,
Com sua justa excelência!
PRETINHO
- Sai daí, cego amarelo,
Cor de couro de toucinho!
Um cego da tua forma
Chama-se abusa-vizinho
- Aonde eu botar os pés,
Cego não bota o focinho!
CEGO
- Já vi que seu Zé Pretinho
É um homem sem ação
Como se maltrata o outro
Sem haver alteração?!...
Eu pensava que o senhor
Tinha outra educação!
P.
- Esse cego bruto, hoje,
Apanha, que fica roxo!
Cara de pão de cruzado,
Testa de carneiro mocho
- Cego, tu és o bichinho,
Que comendo vira o cocho!
C.
- Seu José, o seu cantar
Merece ricos fulgores;
Merece ganhar na saia
Rosas e trovas de amores
- Mais tarde, as moças lhe dão
Bonitas palmas de flores!
P.
- Cego, eu creio que tu és
Da raça do sapo sunga!
Cego não adora a Deus
- O deus do cego é calunga!
Aonde os homens conversam,
O cego chega e resmunga!
C.
- Zé Preto, não me aborreço
Com teu cantar tão ruim!
Um homem que canta sério
Não trabalha verso assim
- Tirando as faltas que tem,
Botando em cima de mim!
P.
- Cala-te, cego ruim!
Cego aqui não faz figura!
Cego, quando abre a boca,
É uma mentira,pura
- O cego, quanto mais mente,
Ainda mais sustenta e jura!
C.
- Esse negro foi escravo,
Por isso é tão positivo!
Quer ser, na sala de branco,
Exagerado e altivo
- Negro da canela seca
Todo ele foi cativo!
P.
- Eu te dou uma surra
De cipó de urtiga,
Te furo a barriga,
Mais tarde tu urra!
Hoje, o cego esturra,
Pedindo socorro
- Sai dizendo: - Eu morro!
Meu Deus, que fadiga!
Por uma intriga,
Eu de medo corro!
C.
- Se eu der um tapa
No negro de fama,
Ele come lama,
Dizendo que é papa!
Eu rompo-lhe o mapa,
Lhe rompo de espora;
O negro hoje chora,
Com febre e com íngua
- Eu deixo-lhe a língua
Com um palmo de fora!
P.
-No sertão, peguei
Cego malcriado
- Danei-lhe o machado,
Caiu, eu sangrei!
O couro eu tirei
Em regra de escala:
Espichei na sala,
Puxei para um beco
E, depois de seco,
Fiz mais de uma mala!
C.
-Negro, és monturo,
Molambo rasgado,
Cachimbo apagado,
Recanto de muro!
Negro sem futuro,
Perna de tição,
Boca de porão,
Beiço de gamela,
Vento de moela,
Moleque ladrão!
P.
- Vejo a coisa ruim
- O cego está danado!
Cante moderado,
Que não quero assim!
Olhe para mim,
Que sou verdadeiro,
Sou bom companheiro
- Canto sem maldade
E quero a metade,
Cego, do dinheiro!
C.
- Nem que o negro seque
A engolideira,
Peça a noite inteira
Que eu não lhe abeque
- Mas esse moleque
Hoje dá pinote!
Boca de bispote,
Vento de boeiro,
Tu queres dinheiro?
Eu te dou chicote!
P.
- Cante mais moderno,
Perfeito e bonito,
Como tenho escrito
Cá no meu caderno!
Sou seu subalterno,
Embora estranho
- Creio que apanho
E não dou um caldo...
Lhe peço, Aderaldo,
Que reparta o ganho!
C.
- Negro é raiz
Que apodreceu,
Casco de judeu!
Moleque infeliz,
Vai pra teu país,
Se não eu te surro,
Te dou até de murro,
Te tiro o regalo
- Cara de cavalo,
Cabeça de burro!
P.
- Fale de outro jeito,
Com melhor agrado
- Seja delicado,
Cante mais perfeito!
Olhe, eu não aceito
Tanto desespero!
Cantemos maneiro,
Com verso capaz
- Façamos a paz
E parto o dinheiro!
C.
- Negro careteiro,
Eu te rasgo a giba,
Cara de gariba,
Pajé feiticeiro!
Queres o dinheiro,
Barriga de angu,
Barba de guandu,
Camisa de saia,
Te deixo na praia,
Escovando urubu!
P.
- Eu vou mudar de toada,
Pra uma que mete medo
- Nunca encontrei cantador
Que desmanchasse este enredo:
É um dedo, é um dado, é um dia,
É um dia, é um dado, é um dedo!
C.
- Zé Preto, esse teu enredo
Te serve de zombaria!
Tu hoje cegas de raiva
E o Diabo será teu guia
- É um dia,
é um dedo, é um dado,
É um dado, é um dedo, é um dia!
P.
- Cego, respondeste bem,
Como quem fosse estudado!
Eu também, da minha parte,
Canto versos aprumado
- É um dado, é um dia, é um dedo,
É um dedo, é um dia, é um dado!
C.
- Vamos lá, seu Zé Pretinho,
Porque eu já perdi o medo:
Sou bravo como um leão,
Sou forte como um penedo
É um dedo, é um dado, é um dia,
É um dia, é um dado, é um dedo!
P.
- Cego, agora puxa uma
Das tuas belas toadas,
Para ver se essas moças
Dão algumas gargalhadas
- Quase todo o povo ri,
Só as moças 'tão caladas!
C.
- Amigo José Pretinho,
Eu nem sei o que será
De você depois da luta
- Você vencido já está!
Quem a paca cara compra
Paca cara pagará!
P.
- Cego, eu estou apertado,
Que só um pinto no ovo!
Estás cantando aprumado
E satisfazendo o povo
- Mas esse tema da paca,
Por favor, diga de novo!
C.
- Disse uma vez, digo dez
- No cantar não tenho pompa!
Presentemente, não acho
Quem o meu mapa me rompa
- Paca cara pagará,
Quem a paca cara compra!
P.
- Cego, teu peito é de aço
- Foi bom ferreiro que fez
- Pensei que cego não tinha
No verso tal rapidez!
Cego, se não é maçada,
Repete a paca outra vez!
C.
- Arre! Que tanta pergunta
Desse preto capivara!
Não há quem cuspa pra cima,
Que não lhe caia na cara
- Quem a paca cara compra
Pagará a paca cara!
P.
- Agora, cego, me ouça:
Cantarei a paca já
- Tema assim é um borrego
No bico de um carcará!
Quem a caca cara compra,
Caca caca cacará!
Houve um trovão de risadas,
Pelo verso do Pretinho.
Capitão Duda lhe disse:
-Arreda pra lá, negrinho!
Vai descansar o juízo,
Que o cego canta sozinho!
Ficou vaiado o pretinho.
E eu lhe disse:
- Me ouça, José: quem canta comigo
Pega devagar na louça!
Agora, o amigo entregue
O anel de cada moça!
Me desculpe, Zé Pretinho,
Se não cantei a teu gosto!
Negro não tem pé, tem gancho;
Tem cara, mas não tem rosto
- Negro na sala dos brancos
Só serve pra dar desgosto!
Quando eu fiz estes versos,
Com a minha rabequinha,
Busquei o negro na sala,
Mas já estava na cozinha
- De volta, queria entrar
Na porta da camarinha!

(*) Aderaldo Ferreira de Araújo, o Cego Aderaldo, nasceu no dia 24 de
junho de 1878 na cidade do Crato - CE. Logo após seu nascimento
mudou-se para Quixadá, no mesmo estado. Aos cinco anos começou a
trabalhar, pois seu pai adoeceu e não conseguia sustentar a família.
Tomou conta dos pais sozinho.

Quinze dias depois que seu pai morreu (25 de março de 1896), quando
tinha 18 anos e trabalhava como maquinista na Estrada de Ferro de
Baturité, sua visão se foi depois de uma forte dor nos olhos. Pobre,
cego e com poucos a quem recorrer, teve um sonho em verso certa vez,
ocasião em que descobriu seu dom para cantar e improvisar. Ganhou uma
viola a qual aprendeu a tocar. Mais tarde começou a tocar rabeca.

Algum tempo depois, quando tudo parecia estar voltando à estabilidade,
sua mãe morre. Sozinho começou a andar pelo sertão cantando e
recebendo por isso. Percorreu todo o Ceará, partes do Piauí e
Pernambuco. Com o tempo sua fama foi aumentando. Em 1914 se deu a
famosa peleja com Zé Pretinho (maior cantador do Piauí).

Depois disso voltou para Quixadá mas, com a seca de 1915, resolveu
tentar a vida no Pará. Voltou para Quixadá por volta de 1920 e só saiu
dali em 1923, quando resolveu conhecer o Padre Cícero. Rumou para
Juazeiro onde o próprio Padre Cícero veio receber o trovador que já
tinha fama. Algum tempo depois foi a vez de cantar para Lampião, que
satisfez seu pedido - feito em versos - de ter um revólver do
cangaceiro.

Tentando mudar o estilo de vida de cantador, em 1931, comprou um
gramofone e alguns discos que usava para divertir o povo do sertão
apresentando aquilo que ainda era novidade mesmo na capital. Conseguiu
o que queria, mas o povo ainda o queria escutar. Logo depois, em 1933,
teve a idéia de apresentar vídeos. Que também deu certo, mas não o
realizava tanto.

Resolveu se estabelecer em Fortaleza em 1942, onde veio a abrir uma
bodega na Rua da Bomba, No. 2. Infelizmente o seu traquejo de trovador
não servia para o comércio e depois de algum tempo fechou a bodega com
um prejuízo considerável.

Desde 1945, então com 67 anos, Cego Aderaldo parou de aceitar
desafios. Mas também, já tinha rodado o sertão inúmeras vezes,
conseguira ser reconhecido em todo lugar, cantara pra muitas pessoas,
inclusive muitas importantes, tivera pelejas com os maiores
cantadores. E, na medida em que a serenidade, que só o tempo trás ao
homem, começou a dificultar as disputas de peleja, ele resolveu passar
a cantar apenas para entreter a alma. Cego Aderaldo nunca se casou e
diz nunca ter tido vontade, mas costumava ter uma vida de chefe de
família pois criou 24 meninos.

(**)Texto extraído do livro "Eu sou o Cego Aderaldo", prefácio de
Rachel de Queiroz, Maltese Editora - São Paulo, 1994.

segunda-feira, 16 de março de 2009

183- XADREZ É UM JOGO

O xadrez é um jogo

Alfredo Pereira dos Santos

Ninguém nasce pensando. A capacidade de pensar é coisa que vem com o tempo. O raciocínio vem depois. Então, trata-se de um processo.

Raciocinar significa pensar logicamente. Dito de outra forma, o raciocínio é uma forma de pensamento onde entram as regras da lógica.

Alguém já disse que as palavras são os “tijolos do pensamento”. Isto quer dizer que os pensamentos são construídos com palavras. Eu olho pela janela e penso: “O dia está nublado”. Nesse pensamento temos artigo, substantivo, verbo e adjetivo. Obviamente, ninguém precisa saber dessas coisas para pensar. Mas a pessoa tem que ter o conceito, a idéia do que seja “dia” e a do que seja “nublado”. Embora possa não ter a menor idéia do que seja “conceito”.

Conceito (do latim conceptu) é aquilo que o espírito concebe ou entende, idéia, noção.

Uma criança muito pequena sente dor e manifesta pelo choro o desconforto que a dor lhe causa. Mas ela não elabora discurso sobre a dor, não faz reflexões sobre a dor porque lhe faltam palavras para isso. Com o tempo ela aprende a associar a sensação desagradável da dor à uma palavra, que pode ser a própria palavra “dor” ou outra que lhe seja sinônima ou correlata, como “sofrimento”. Desse modo, o que antes era apenas sensação passa a ser um conceito, uma idéia.

Com o tempo a criança começa a separar em categorias as coisas do seu mundo sensorial e do mundo dos objetos. Dor é coisa má. Carícia é coisa boa. Comer também. Praia em dia ensolarado é legal, mas queimadura de pele não. Então, o que vem depois das sensações (Piaget definia a fase da vida da criança que vai dos zero aos dezoito meses, de “fase sensório-motora”) é o conceito, a idéia. Posteriormente essas idéias são associadas a algum tipo de julgamento, do tipo “isso é bom” ou “isso é mau”. De posse desses elementos entra em cena o “juízo”.

Locke dizia que “Não há nada no domínio da razão que não tenha passado antes pelos sentidos”.

Juízo (do latim judiciu) é a faculdade intelectual que compara e julga. É apreciação, opinião, voto, parecer.

Existindo o conceito e o juízo, estão colocadas as condições para que o raciocínio se apresente.

Por exemplo, temos o conceito de dor, de Sol, de pele e de queimadura. Nesse momento eu não estou sentindo dor, mas sei o que é a dor. Não estou vendo o Sol, mas sei o que é o Sol. Não preciso sentir uma coisa nem ver a outra para saber o que são, pois são conceitos na minha mente.

O Sol queima a pele, o que provoca dor. Dor é coisa desagradável, que eu quero evitar. Desse modo eu concluo (raciocino) que, para aproveitar um belo dia de Sol sem ter o desprazer da dor eu não devo ficar por muito tempo exposto ao Sol.

Então, há essa hierarquia: conceito, juízo, raciocínio. Filosoficamente falando, raciocínio é a operação pela qual o espírito tira a conclusão das premissas.

Nesse ponto quero esclarecer que quando falo em “espírito” não emprego a palavra com qualquer conotação mística ou religiosa. Refiro-me tão somente ao lado intelectual do homem.

Com o tempo aprendemos também que juízos distintos podem ser atribuídos a um mesmo conceito. Existem homens bons e existem homens maus. E um mesmo homem pode ser bom um dia e mau no outro. Ou bom numa circunstância e mau em outra. Eu bendigo a brisa agradável que ameniza as agruras do calor, mas reclamo quando ela espalha os meus papeis pela sala. A brisa é “boa” ou é “má”? Nem uma coisa nem outra. A brisa é a brisa. A “bondade” ou a “maldade” dela está no juízo que dela fazemos, de acordo com as circunstâncias.

Pelo exposto, podemos concluir que pode ser arriscado atribuir rótulos definitivos às coisas, sem levar em conta as circunstâncias.

A essa altura, já falamos um bocado e alguém poderia perguntar: “mas o que tudo isso tem a ver com o jogo de xadrez?

A resposta natural é que tem tudo a ver. E começamos a demonstrar isso lançando a seguinte questão: “COMO APRENDEMOS A FALAR?”

Observem que nenhuma criança aprende a falar indo para a escola (embora não se possa excluir tal possibilidade. Mas o fato é que essa não é a regra geral). Quando a criança vai para a escola já sabe falar, se expressar, se comunicar.

A criança aprende a falar no mundo e com o mundo. Elas repetem o que ouvem, imitam, seguem os modelos que lhes são apresentados. Se no seu mundo se diz “a gente vamos” ou “para mim fazer” ela vai usar essas expressões. E vai se comunicar muito bem, pois estará seguindo o padrão do seu grupo social. As dificuldades vão surgir quando, na escola, ela entrar em contato com a norma culta da língua e constatar que alguns dos seus hábitos “lingüísticos” são de difícil erradicação e lhe tiram pontos nas provas.

O xadrez é uma forma de expressão (tal como é a arte), podendo ser visto também como uma linguagem. Todavia ele é um jogo. Como tal, o seu papel na vida da criança (e mesmo do adulto) não pode ser negligenciado, ignorado ou subestimado.

Louis Meylan, em A ESCOLA SOB MEDIDA, diz que “a criança e, em grande parte, o adolescente,... tem imperiosas necessidades de crescimento. Ora, a forma de atividade, que responde à necessidade de crescimento, É O JOGO (a caixa alta foi por minha conta, para dar ênfase ao que foi dito). O ser humano tem infância e adolescência, porque é necessário que brinque, e brinque muito tempo, para tornar-se capaz de corresponder às múltiplas exigências da sua condição.

Assim, o jogo constitui a atividade normal e específica do jovem ser; aprende, brincando, a conhecer as propriedades das coisas; exercita todos os seus sentidos, classifica os objetos em série, segundo o seu tamanho ou sua cor; caça as palavras, repete-as, ensaia-as; do mesmo modo ensaia toda espécie de raciocínios; em seus brinquedos com os amigos, treina obedecer e mandar. Do nosso ponto de vista de adultos, seríamos tentados a dizer que trabalha, tal é a seriedade e, as vezes, a paixão que manifesta em seus jogos. Mas nada disso para ele é trabalho. Ele brinca: todas as atividades lhe interessam em si mesmas e por si mesmas, não tendo em vista um fim que estaria fora ou além delas. Brinca porque é preciso brincar, para fortificar em si todos os poderes específicos do homem, para vir a ser o que é. Mas não sabe coisa alguma de tudo isso; só perceberá mais tarde, e seria absurdo, no momento presente, procurar fazê-lo compreender. Ele brinca, simplesmente; e, brincando, corresponde à sua vocação”.

Que o jogo é coisa fundamental na vida da criança não se discute. Piaget falava-nos dos jogos-sensórios motores, correspondendo à fase inicial da vida da criança, dos jogos simbólicos, correspondendo a uma fase posterior e, finalmente, dos jogos de regras, que ele definiu como a “atividade lúdica do ser socializado”.

O xadrez se enquadra na categoria dos jogos de regras. Isso significa que a criança deve ter uma certa maturidade intelectual para assimilar os seus conteúdos. Em que idade essa maturidade ocorre é coisa difícil de definir. Há crianças de cinco anos que já o jogam enquanto outras, com o dobro da idade, diante do tabuleiro, ficam colocando as peças umas em cima das outras, dando-lhes mais prazer fazer isso do que jogar. Nada de novo sob o Sol. Há muito se sabe que não há correlação direta entre idade mental e idade cronológica. Mas atentem para o seguinte: ficar colocando as peças umas sobre as outras é TAMBÉM UM JOGO.

Não vamos dar muita importância a essas diferenças. O que hoje empilha as peças pode vir a ser forte jogador mais adiante enquanto que o outro, que já jogava de forma compenetrada aos cinco anos, pode permanecer nas categorias mais baixas do jogo. Exemplos não faltam. Segundo relatam, Mikhail Tahl era muito fraquinho aos nove anos de idade e, mesmo em anos posteriores, não se destacou, de modo que ninguém poderia prever que um dia chegaria a campeão mundial.

Então, vejam bem: no universo dos jogos que vão fazer parte da vida da criança, O XADREZ É APENAS UM DELES. Desse modo não se justificam os discursos apologéticos de alguns defensores do jogo de xadrez, como se este fosse o néctar dos deuses, a oitava maravilha do mundo. Que os jogos vão fazer parte da vida da criança, não há dúvida. Quanto ao xadrez, não necessariamente.

Podemos achar que o xadrez é ótimo, mas as crianças podem preferir fazer outra coisa que não jogar xadrez. Por outro lado, pais, professores, gente do governo, etc., podem não ver no xadrez as maravilhas que muitos enxadristas vêem. A criança vive no mundo dos adultos, eles não se interessam pelo jogo e elas, por conseguinte, também não. Elas vêem TV e jogam videogame. Como o xadrez vai entrar nos corações e nas mentes dos brasileiros eu não tenho as respostas. O que suspeito, contudo, é que os discursos laudatórios feitos por alguns defensores do xadrez, são totalmente ineficazes e, as vezes, até contraproducentes. A ênfase nas “maravilhas” do xadrez compartilhada por alguns pais e instrutores, não raro se manifestam como ansiedade. Essa ansiedade se projeta na criança que, não suportando o fardo, renuncia ao jogo. Como disse Meylan, “a criança quer brincar”. Não lhe interessa as nossas teorias sobre o jogo. Que, aliás, ela não entende.

Desse modo, nessa questão de se levar o xadrez às escolas, de se ensiná-lo às crianças e de popularizá-lo, há muita coisa a ser considerada. Deixemos, porém, de lado essas questões, de solução complicada, e vamos nos ater a uma outra, que surge quando a criança começa a entrar no “espírito do jogo” e a raciocinar (forma de pensamento) em termos de seus objetivos e das suas regras.

Se, como foi dito, as palavras são os tijolos do pensamento, então, quais são os “tijolos” do pensamento enxadrístico? Quais são as PALAVRAS ENXADRÍSTICAS?

Para começar, creio que estamos de acordo que REI, DAMA, TORRE, BISPO, CAVALO e PEÃO são “palavras enxadrísticas”, embora o sejam também do nosso vocabulário cotidiano. Só que o REI não é o da Inglaterra, nem a DAMA é a da corte, a TORRE não é aquela onde ficou preso o Ricardo Coração de Leão, o BISPO não é o de Roma, o CAVALO não é o Incitatus, preferido do imperador Calígula, nem o PEÃO é o que trabalhou na obra da esquina. São palavras claramente associadas a elementos do jogo de xadrez, com suas imagens e representações próprias. São, efetivamente, PALAVRAS ENXADRÍSTICAS. Nesse contexto, se você disser que “comeu o bispo” ninguém poderá julgá-lo um pervertido. Ou um antropófago, como os índios que comeram o bispo Sardinha.

Nesse ponto faço uma digressão. Eu prefiro a palavra “capturar” em lugar de “comer”, mas nada tenho contra esta, pois está perfeitamente de acordo com as nossas tradições antropofágicas. E o próprio mestre Machado de Assis, que era enxadrista, se referiu ao xadrez como “um jogo delicioso... onde todos comem a todos”.

Isso posto, que outras PALAVRAS ENXADRÍSTICAS seriam dignas de serem mencionadas? Creio que com um exemplo me sairei melhor na resposta.


DIAGRAMA 1

Quando eu queria saber o grau de conhecimento que um aluno novo (mas que já tinha aprendido o jogo) tinha do xadrez, eu mostrava-lhe alguma posição constante do meu repertório e perguntava: O QUE VOCÊ FARIA NESSA POSIÇÃO, JOGANDO COM AS BRANCAS?

Uma dessas posições vocês podem ver no Diagrama 1. E certamente já viram que 1. Th8 dá xeque-mate ao rei preto. Óbvio, não é?

Não obstante, com uma freqüência que talvez vocês não imaginem, eu recebia respostas do tipo:

1. Bf6

1. Th7

1. Bh8

Mais uma vez, nada de novo sob o Sol, pois conhecer palavras não significa que se saiba combiná-las bem. Não tem gente que chega à universidade, para fazer curso superior de base matemática e não sabe operar com frações? O professor Jorge de Souza, convidado para dar aulas numa faculdade particular de Brasília, descobriu que os alunos não estavam acompanhando a disciplina de Teoria das Probabilidades porque não sabiam frações. O que fez o professor? Não vituperou os alunos, pois conhecia bem a realidade brasileira. Começou o curso ensinando como se soma, subtrai, multiplica e divide frações.

Então é a mesma coisa. Se o aluno não sabe dar MATE EM UM LANCE, há que se lhe ensinar o “MATE EM ZERO”.


DIAGRAMA 2

MATE EM ZERO eu chamo (e não devo estar sendo original) uma posição em que o mate já está sendo dado. Um exemplo é o do Diagrama 2. Vamos agora fazer a seguinte afirmação:

TODAS AS POSIÇÔES DE MATE EM ZERO SÃO PALAVRAS ENXADRÍSTICAS.

Elas resultam de combinações das “palavras” mais simples que denotam os nomes das peças. Essas combinações resultam nas diversas configurações possíveis do mate.

Então, é imprescindível que o aluno seja apresentado a essa situação do Diagrama 2, antes que se lhe ensine a técnica do Mate de Rei e Dama contra Rei. Pode-se até lhe dizer coisas como “o mate só é dado na margem do tabuleiro”, mas isso não é suficiente. O aluno tem que ver a posição. Em outras palavras, tem que ter a IMAGEM DO MATE na sua mente. A imagem e as suas variações. Como existem 364 posições de Mate de Rei e Dama contra Rei (segundo os que gostam de fazer essas contas) não faltarão exemplos a serem mostrados. O professor mostra uma outra posição do mate, obtida por rotação ou translação, e pergunta ao aluno: HÁ MATE NESSA POSIÇÃO? JUSTIFIQUE A SUA RESPOSTA.

Naturalmente que estou me antecipando e isso porque queria falar no MATE EM ZERO. Mas antes há que se falar nas posições onde as únicas peças existentes são os Reis. E explicar que os REIS JAMAIS SE TOCAM. Essa circunstância é que determina o porque do Rei preto não poder fugir do ataque da Dama branca: porque um Rei não pode encostar no outro. Então, há que haver um encadeamento lógico na apresentação dos temas. Naturalmente que o movimento da Dama teria que ser abordado antes.

Se as palavras são os “tijolos do pensamento” então salta aos olhos que quanto mais palavras (tijolos) tivermos maiores serão as possibilidades de combinações dessas palavras. Maiores serão as possibilidades de expressão.

Bertrand Russell (matemático, filósofo, prêmio Nobel de literatura em 1950) disse que “Quem só conhece 1500 palavras não consegue se expressar nem com elegância nem com precisão, a não ser em poucos assuntos e, assim mesmo, pelo mais mero acaso

Uma pessoa com um vocabulário de 800 palavras consegue se comunicar. Pode dizer que está com fome, com sede, que procura emprego. Mas não vai fazer discurso requintado nem pode entender algumas manifestações mais elaboradas do mundo cultural. Uma coisa é a frase “Maria foi à feira comprar verduras”, que qualquer um entende. Outra coisa é uma frase como “A crítica nietzschiana à metafísica tem um sentido ontológico e um sentido moral”.

Algumas posições do xadrez são como a frase sobre a mulher que vai à feira. Fáceis de entender. Outras posições são como a frase que fala do filósofo alemão Nietzsche. Exige-se um certo background para o seu entendimento.

A crianças que não viram o mate em um não puderam fazer o “discurso do mate” porque lhes faltou a palavra (enxadrística) essencial.

Existem várias situações temáticas (peões atrasados, colunas abertas, etc.) que podem ser consideradas PALAVRAS ENXADRÍSTICAS. Como as palavras do nosso cotidiano, algumas são simples, como CASA, outras mais cheias de significado, como EPISTEMOLOGIA. De qualquer forma, são com essas palavras que construímos as nossas orações, os nossos discursos.

Nem sempre se adquire vocabulário conversando. Tem gente que conversa há 60 anos e conserva o mesmo vocabulários limitado. Um bom método de melhorar o vocabulário é pegar bons livros e ler. Sem excluir, é claro, a hipótese de manter contato e conversações com pessoas mais cultas, como o Machado de Assis gostava de fazer.

Da mesma forma nem sempre se aumenta o vocabulário enxadrístico jogando partidas. Há que se ir, aos poucos, conhecendo, através de bons livros e de bons professores, palavras mais complexas, com significados mais abrangentes. Em suma, adquirir cultura enxadrística. E avaliar o próprio progresso no confronto com os mais fortes.


DIAGRAMA 3

De posse desses elementos o aluno, diante de uma posição como a do Diagrama 3 não vai errar o “discurso”, porque já terá todas as “palavras” apropriadas para fazê-lo.

O tema é vasto e penso que alguns pontos deveriam ser mais detalhados. Mas não quis que esse texto ficasse muito longo.

Rio de Janeiro, 15 de março de 2009