UMA LACUNA NA FORMAÇÃO DO
ENXADRISTA: A CAPACIDADE DE VISUALIZAÇÃO MENTAL.
Este é um artigo voltado para os
Alexanos iniciantes ou os da classe C e B. Mas os mais fortes estão convidados
a colaborarem com sugestões, discordâncias, etc. É o primeiro de uma série, a
convite do Presidente Blanco, sem uma ordenação temática, mas uma miscelânea de
assuntos sob minha perspectiva.
O tema esta semana é sobre a
questão da capacidade do enxadrista de visualizar mentalmente (ou seja, sem
olhar o tabuleiro) posições e lances, dominando toda geometria que envolve o
jogo.
Esse tema começou a me chamar a
atenção quando em um ping no Posto 6 em Copacabana eu vi um classe A da FEXERJ
exibir orgulhosamente um “tijolão” de mais de 500 páginas contendo combinações
em todos os seus temas. Pensei: “legal, é uma forma de treino”. Contudo, tive a
feliz ideia de perguntar a ele: “ei, olha para mim. Qual a cor da casa f5?” o
cara não respondeu! Perguntei sobre cores de outras casas, casas que formavam
uma diagonal,etc, NECA!
O caso do meu querido amigo
classe A é que ele teve uma lacuna logo em seu aprendizado do jogo. Assim como
eu tive e muitos outros.
É aconselhável a qualquer
iniciante ou estudante aprender sobre o tabuleiro de xadrez e toda a sua
geometria (em caso de crianças muito pequenas isso pode ser uma exceção devido
à cognição pouco abstrata) concomitantemente aos movimentos das peças. O melhor
método que já vi até hoje nesse sentido é o que consta no livro Comprehensive
Chess Course, vol. I,II de Lev Alburt e Roman Peltz (http://www.amazon.com/Comprehensive-Chess-Course-Lessons-Enlarged/dp/1889323233).
Esses livros são extraordinários e recomendo fortemente a todo classe C com
severas dificuldades de visualização que reaprenda com eles o elementar de xadrez (fazendo mentalmente os exercícios propostos como um aquecimento
cerebral prévio a outros treinos/estudos).
Então, todo estudante deve
aprender bem sobre o tabuleiro de xadrez de forma que seja capaz de “vê-lo” em
sua mente. Deve ser capaz de responder rapidamente, sem olhar o tabuleiro, a
questões como: como um cavalo vai de c4 a f6, passando por d3? Quais as casas
onde um bispo em h4 pode atacar uma dama em d6? Quais as diagonais que fazem
interseção com a casa c5? Qual a casa que faz a interseção da diagonal b1-h7
com a quarta fila? E por aí vai.
Ao fim de um rigoroso treinamento
de visualização do tabuleiro, o estudante deverá estar apto a reproduzir
mentalmente partidas somente olhando os lances. Também deverá estar apto a
depois de olhar um diagrama de combinação por 2-3 minutos, resolvê-lo
mentalmente.
O tipo de treinamento citado
deveria ser empregado seriamente por jogadores de todas as forças (adequando os
treinos para cada gradação de força, claro).
Evolução no xadrez é passo a
passo. Não adianta fazer um treino de cálculo (em livro do Dvoretsky, por
exemplo) se houver lacuna em visualização do tabuleiro. Treinar a capacidade de
ver o tabuleiro em sua mente é de grande importância para seu futuro
desenvolvimento.
Embora o pensamento posicional
seja extremamente importante (na verdade, uma condição prévia ao cálculo,
afinal como você terá condições de avaliar uma posição depois de “n” lances?),
análises (cálculo) precisas é tão ou mais importante. Na prática, em uma
partida, o enxadrista lida com muitas situações onde o concreto cálculo de
variantes é necessário. Nestas situações, onde você necessita calcular muitas
variantes , a capacidade de mentalizar as posições resultantes é de primeira
importância e isto pode ser melhorado muito com o treino de visualização de
tabuleiro. E as bem conhecidas capivaradas e lamentações (“eu tava ganho!” “eu
tava melhor!”) irão drasticamente diminuir.
Bom, vamos aplicar agora um teste
básico para os alexanos iniciantes, C e B (os mais fortes podem fazer também!).
São dois pequenos testes que deverão ser feitos sem olhar um tabuleiro. Anotem
suas soluções e depois sim chequem os resultados no tabuleiro.
Teste A)
- 1- Qual a cor da casa f6?
- 2- Qual a cor da casa b4?
- 3- Como um bispo em f5 pode ir para d6?
- 4- Diga todas as rotas mais curtas que um cavalo pode ir de e4 para h8.
Bom, se você acertou 100% (sem muita demora) pode fazer o
próximo teste básico. Se não acertou, vá correndo reaprender o jogo nos dois
volumes do Comprehensive Chess Course e exercite também nesta página da
internet: http://www.chessvideos.tv/chess-visualizer-square-colors.php
Teste B)
- 1- Brancas: Rh1, De4, Cf8, b2, e5, g2 e h2; Pretas: Rh8, De3, Bc1, a4, b4, g7, h6. Brancas jogam. Qual lance devem fazer?
- 2- Posição inicial. Depois de 1-e4-c6; 2-d4-d5; 3-Cc3-dxe4; 4-Cxe4-Cd7; 5-De2-Cgf6. Qual o melhor lance para as brancas agora?
- 3- Brancas: Rg1, Da3, Td1, Bg5, Ce2, a2, b3, c4, f2, g2, h2. Pretas: Rg8, Dg6, Tf8, Bb7, Ce5, a7, b6, c7, f7, g7, h7. Brancas jogam. O que devem jogar?
- 4- Brancas: Rg1, Bg2, Ce4. Pretas: Re3, Db2. Pretas jogam. Podem ganhar? Como?
Bem, alexano, se você não acertou 100% do teste B, está num
nível intermediário de visualização do tabuleiro e deve começar um treinamento:
vol. 2 do Comprehensive Chess Course, exercícios por mim enviados ou nessas
páginas da internet: http://www.chessvideos.tv/blindfold-chess-quiz.php
(Easy e Medium).
Se respondeu a 100% corretamente o teste B, você tem uma
boa capacidade de visualização e deve continuar melhorando essa habilidade com
exercícios específicos, tais como:
- · Reproduzir partidas mentalmente de forma progressiva, de mais curtas a mais longas, chegando a um momento crítico onde uma questão lhe será colocada. Exemplo: 1-c4-e5; 2-g3-Cf6; 3-Bg2-Be7; 4-e3-d6; 5-Cc3-0-0; 6-d3-Be6. Qual o melhor lance das brancas? Ou veja mais na internet: http://www.chessvideos.tv/blindfold-chess-quiz.php (Hard) ou no meu blog http://www.maiakowsky.blogspot.com.br/2008/04/xadrez-clculo.html
- · Pegue um livro com exercícios táticos. Olhe um diagrama por alguns segundos/minutos até mentalizá-lo. Então, resolva o exercício sem olhar mais para o diagrama.
Agora, um desafio: em quantas rotas diferentes um cavalo pode ir de d6 a f4 no menor número de lances?
Bom, fico por aqui nessa 1ª coluna. Dúvidas e críticas (por favor, muitas!), escrever para joseeduardomaia@terra.com.br
Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2013.
MF JOSÉ EDUARDO MAIA.
Texto a ser veiculado no site da ALEX: www.alex.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário