Há 35 anos um grupo de malucos, a maioria adolescentes ou adultos
imberbes junto de uns poucos adultos com alguns parafusos frouxos ou já
faltando, resolveu que não poderiam continuar sujeitos às idiossincrasias
do Olaria Atlético Clube e fundaram, no dia 28 de dezembro, a gloriosa
Associação Leopoldinense de Xadrez, a ALEX (assim mesmo, tudo em
maiúscula, sem pontos de separação ou outras excrescências que alguns,
recentemente, por descaso à historia, ao passado e as tradições tentaram
alterar para coisas esdrúxulas como Alex ou A.L.E.X) tendo como cores
sagradas a cor de abóbora, o preto e o branco (houve tentativas, também
recentes, de trocarem o cor de abóbora por laranja ou algo parecido, em
mais um insulto aos fundadores da gloriosa que não vingou graças à
rabugice deste que aqui escreve). A ALEX cresceu, e continuara a crescer,
pelas iniciativas de diversos alexanos e assim continuará enquanto novas
pessoas fizerem coisas novas e deixarem em paz o que outros fizeram no
passado. Ave!
Durante este 35 anos a ALEX (tudo em maiúscula, como já realcei) viveu
constantemente na UTI, respirando por aparelhos. Muitas vezes recebeu a
extrema-unção (por favor, não me encham a paciência com o uso de hífen em
extrema-unção. Resolvi que continuarei a usar tremas e hífens quando bem
entender. É inaceitável que um bando de babacas decrépitos decidam o que
eu faço com meus hífens e tremas. Enfio meu hífen onde eu bem entender e
corôo com tremas as letras que julgar merecedoras de tal honraria.)
apenas para recuperar-se momentos antes do caixão receber as primeiras pás
de terra.
Uma das razões da longevidade da ALEX está nas suas origens simples e
despretensiosas. Queríamos apenas jogar xadrez enquanto muitos dos que
dirigiam departamentos de xadrez em clubes buscavam apenas alguma forma de
poder. O xadrez era apenas o meio. Foi assim no Olaria e era (é ?) assim
em outros clubes. A organização e gerenciamento do departamento de xadrez
no Olaria não levava em conta o xadrez e o grupo que lá jogava, mas a
política maior do clube, com seus interesses mais amplos que o simples
mover de peças em um tabuleiro de 64 casas. Não raramente havia conflito
entre o que precisávamos, ou queríamos, e o que convinha ao clube
sendo que o xadrez, dentro desta estrutura, era algo menor, um peão a ser
sacrificado a qualquer momento.
O fato de obtermos razoável sucesso no xadrez, em nossas participações nos
campeonatos estaduais (na época não havia esta excrescência de Estado do
Rio de Janeiro para atrapalhar e, portanto, disputávamos campeonatos na
Guanabara, ou seja apenas a cidade do Rio de Janeiro) contava contra nós
!!!! Isto chamava a atenção para e aumentava a intromissão politica externa no nosso grupo que acabava tendo que se
sujeitar a uma direção totalmente dissociada de nossos interesse e, não
raramente, a eles contrários.
As pessoas jamais deveriam permitir tal situação. Infelizmente, por
comodismo ou pusilânidade, tendemos a não apenas aceitar como também
incentivar a interferência externa em nossos assuntos pois o contrário, ou
seja assumir a responsabilidade por nós mesmos, trás junto os problemas
inerentes à auto-determinação, entre eles manter-nos. É conveniente ter
alguém cuidando das coisas em nosso lugar. Abrimos mão da independência
em prol do comodismo.
É ilusão acreditar que alguém (seja pessoa, uma organização,
uma entidade, grupos políticos, ideológicos, econômicos, religiosos ou de
que natureza for) irá nos prover de tudo que queiramos ou precisamos em troca
de nada. Estas benesses invariavelmente são feitas sempre em atenção aos
interesses (políticos, ideológicos, religiosos ou quais sejam) daqueles
que , 'por bondade' fazem as coisas por nos (por favor, não me venham com
o papo de que determinadas ideologias são diferentes e só visam ao bem
geral, etc e tal ....). O preço de aceitarmos isto é sempre a perda da
liberdade e da autodeterminação (novamente não me venham com papos
pseudo-ideológicos).
A ALEX aceitou e pagou o preço da independência e, com dignidade,
prostou-se na UTI e, espero, o fará de novo se as circunstâncias assim
exigirem. Convém notar que muitos dos departamentos de xadrez existentes
na época de fundação da ALEX fecharam seguindo a conveniência do mais
fácil.
A ação coletiva resultante na ALEX e sua continuidade não exclui ou
dispensa a ação individual. Não poucos são ou foram as pessoas que por
suas ações individuais levaram a ALEX para frente. Posso citar, correndo o
risco de cometer injusticas por esquecer alguns nomes devido a senilidade
que se aproxima, eu mesmo, Manoel Augusto, Vitor Hugo, Dijalma Caiafa,
Walter Cortinhas, Antonio Elias, Paulo Klinger, Alberto Mascarenhas,
Jerônimo Pimenta, Edward Troutman, Braulio, Estelito, Ermio Carlos,
Blanco, Fontes, Jose Nurck, Douglas Siviotti, Aderito Pimenta, Oswaldina
da Motta, Helio da Motta. Há outros cujos nomes agora escapam-me sendo que
alguns deles eu me lembro da pessoa, sua atuação, mas o nome não aparece
..... Peco aos que se lembrem de outros nomes que enviem uma mensagem
acrescentando-os.
A ALEX mudou quando precisou mudar, mas manteve-se fiel a seus princípios.
É preciso que cada um dê sua contribuição (o que não significa,
necessariamente, dinheiro - embora dinheiro ajuda bastante). Mudou-se para
a Cinelândia pois as condições tornaram inviável sua continuação na área
da Leopoldina. Talvez um dia possa reabrir uma sede por cá, sem abandono
da sede do centro. Vislumbro isto para o dia em que a ALEX consolidar-se
como o maior clube de xadrez do Brasil, com recursos confortáveis para sua
manutenção. Nesta ocasião deverá não apenas recomeçar sua atuação na área
da Leopoldina como abrir várias outras sedes em diversas localidades onde
há carência de clubes de xadrez. Claro que a não homogeneidade da
densidade de enxadristas deve-se mais a não homogeneidade da estrutura de
prática do xadrez do que a fatores outros (como a intensa e forte
participação da ALEX na época em que ainda existia em Olaria assim
comprova). Como em todas as atividades humanas, a excelência deve-se em
muito à disponibilidade de meios para que os talentos aflorem e se
manifestem no máximo de seu potencial. Não é por acaso que grandes
pianistas aparecem onde há escolas de pianos e nenhum pianista surja onde
escolas de piano não existem. Não é por acaso que que há mais analfabetos
onde não há escolas, não é por acaso que aparecem grandes talentos de
beisebol nos EUA e nenhum no Brasil, não é por acaso que há poucos
enxadristas onde não há lugares para prática regular de xadrez.
A missao final da ALEX é levar o xadrez onde nenhum enxadrista jamais
foi. Expandi-lo, divulga-lo, levá-los a brancos, pretos, mulatos, pobres,
ricos, bichas (não me venham com papos politicamente corretos, por favor.
Tenho ódio destas coisas), heterosexuais, velhos, novos, crianças,
favelados, patricinhas, playboys, moças recatadas ou piranhas.
Podemos levar a prática do jogo para os presídios, usando o lema
"O Xadrez Liberta" (genial !!! eu sempre me supero!!). Aos que dizem ser
isto tudo impossível, convém lembrar que mais importante do que chegar é
saber para onde estamos indo.
Enfim, 35 anos após a reunião de um pequeno grupo em uma sala calorenta na
Rua Noemia Nunes 441, em Olaria, o mesmo ideal vive e continuará a viver.
Depende apenas de nós.
Lembranças alexanas
Helio
PS. Estava fora do Rio e só hoje tive acesso a internet. Não pude enviar
uma mensagem ontem. Um dia a mais ou a menos, entretanto, pouco significa
em 12.775 dias
E-MAIL DE UM DOS FUNDADORES DA ALEX, HELIO DA MOTTA FILHO, PARA OS ALEXANOS.