1107- Teoria de Aberturas: quem precisa dela?

Domingão... Após os 90 minutos, no mínimo, sentado diante da TV vendo o Mengão perder de virada pro Grêmio eu penso: futebol e TV são para otários!! e vou para o meu mail. Recebi de um amigo de longa data um mail sobre uma postagem no blog do inglês Steve Giddins onde o cara lá, bem como nós aqui, está de saco cheio com a Federação (o imperador de lá foi reeleito....Deus nos livre!!). Vejam a postagem no blog do Giddins AQUI . A coisa lá é mais pesada......

Mas, futucando o blog eu vi uma outra postagem que me interessou muito mais. Fala sobre a obsessão que 99% dos jogadores competitivos têm em teoria de aberturas. Fiz uma tradução "xexelenta" abaixo. O texto original em inglês AQUI.

TEORIA DE ABERTURAS. QUEM PRECISA DELA?
Quase todos os jogadores de xadrez competitivo que eu já conheci, inclusive eu, estão obcecados com aberturas. Todos nós acreditamos que cada uma de nossas derrotas é devido à abertura, e que seríamos muito mais fortes "se soubéssemos as aberturas melhor". Todos nós gastamos a maior parte do nosso dinheiro com material de abertura, livros e DVDs e vamos para os torneios, em alguns casos, até mesmo torneios de fim de semana, carregando laptops,  dedicando cada minuto livre para olhar os jogos dos nossos adversários no banco de dados e mapear a linha de abertura que pretendemos usar contra eles.
Mas a verdade é que em 99% dos casos, esta concentração em aberturas é completamente desnecessária, se não mesmo prejudicial. Em qualquer coisa abaixo do nível do GM forte, os jogos são decididos no meio jogo e finais, esmagadoramente pelo estado de alerta tático. Poucos jogadores abaixo do nível GM fortes são capazes de jogar um jogo impecável para capitalizar a vantagem obtida através de uma preparação de abertura superior. Em vez de passar a manhã do jogo com  computadores, a maioria de nós faria muito melhor em passar o tempo relaxando, fazer uma caminhada e ler um bom livro,  depois indo para o jogo revigorado, entusiasmado e ansioso para a batalha. Concentração e espírito de luta sobre o tabuleiro vale mais a pena do que  todos os livros de abertura do mundo juntos.

Gerard Welling (Foto: Chessvibes.com)

  O recente Torneio Internacional de Oslo forneceu um grande exemplo disso. Meu amigo, o MI holandês Gerard Welling, como a maioria dos jogadores amadores, tem uma profissão que o ocupa boa parte do tempo e só joga umas poucas vezes por ano. Mas diferentemente da maioria dos jogadores, Gerard sempre entendeu o valor das virtudes Laskerianas tais como estado de alerta tático e bom senso. Para o torneio de Oslo, ele preparou um repertório de abertura, que consistiu na escandinava e uma linha da eslava com as Pretas e sólido 1.d4 London / Colle sistema com as Brancas. Ele me diz que sua preparação de abertura para o evento foi feito em um único dia, uma semana antes do torneio! Ele não levou um laptop com ele, e nem se preocupou em procurar as aberturas de seus oponentes antes do jogo. Em vez disso, ele só chegou a cada dia, relaxado e pronto para lutar, determinado apenas para jogar  o "seu repertório de aberturas".
O resultado foi notável. Ele fez 5 pontos em 9 rodadas mas contra oponentes que incluiu quatro GMs, quatro MI´s e um MF. Ele venceu um dos GMs, empatou com o outro (depois de passar um ganho). Suas duas derrotas, ambas contra dois GM, resultou apenas de chances perdidas no meio-jogo e final, com a abertura nem um pouco tendo a culpa em qualquer ocasião. O resultado foi uma norma de MI, a 20ª que ele fez na sua carreira.
O jogo seguinte, contra um forte e experiente GM americano, foi típico das virtudes que eu estou discutindo. Brancas tentaram fazer funcionar sua escolha da abertura, mas a posição sólida das Pretas  recusou-se a ceder, e então um vicioso truque tático selou o destino do GM.
[Event "Xadrez Internacional Oslo"]
[Site "Oslo"]
[Round "7"]
[White "De Firmian, Nick E"]
[Black "Welling, Gerard"]
[WhiteElo "2516"]
[BlackElo "2322"]

1. e4 d5
Se você quer uma defesa simples e sólida para 1.e4, que envolve o mínimo de aprendizado de teoria , não há nada melhor do que a defesa Escandinava.
2. exd5 Qxd5 3. Nc3 Qd6 4. d4 Cf6 5. Nf3 a6 6. g3 BG4 7. h3 Bxf3 8. Qxf3 c6 9. BE3 e6 10. OOO Nbd7

Depois de terem trocado seu bispo de casas brancas as Pretas estabelecen uma sólida estrutura de peões, estilo Caro-Kann, com seus peões em casas brancas. Brancas têm o par de bispos, mas na prática, eles não são tão fáceis de utilizar de forma eficaz nessa estrutura.
11. BF4 QB4 12. BC7 RC8 13. a3 Qe7 14. Ba5

Manobra engenhosa do bispo branco. Parece ter semeado alguns desarmonia na posição das Negras, mas sua posição é tão sólida que ele não tem nenhuma necessidade de pânico. Gerard continua a manter a calma e aos poucos desvenda os mistérios da posição.
14 ... Qd6 15. Bc4 Be7 16. Rhe1 QB8 17. NE4 Nxe4 18. Qxe4 Cf6 19. Qe2 OO

  Pretas têm superado suas dificuldades temporárias e agora têm um excelente jogo. Os bispos brancos serão alvos do avanço dos peões pretos da ala da dama, enquanto o peão em a3  dá chance a abrir linhas em frente ao rei branco.
20. BD3 b5 21. KB1 ND5 22. Ka1 23 b4. Bxa6 BXA3 24. b3

24 ... Qa7!
Este é o golpe tático que as  Brancas tinha perdido. Agora, depois 25.Bxc8 Qxa5, a ameaça de mate por Qc3 + ganha material.
25. Qc4 RA8 26. Qxc6 Qxa6 27. Qxa6 Rxa6
Em desespero, as Brancas deram uma peça inteira, e até mesmo os recursos defensivos de um GM não são suficientes para salvar o jogo.
28. BD2 NB4 29. Bxb4 Bxb4 30. RE3 RC6 31. c4 g6 32. Ka2 Rd8 33. Red3 Rcd6 34. g4 BC5 35. f3 Kf8

36. R1d2 Re7 37. RD1 Rxd4 38. Rxd4 Rxd4 39. Rxd4 Bxd4 40. Kxa3 KD7 41. b4 KC6 42. KB3 e5 43. Kc2 Bf2 44. Kd2 BH4 45. Kd3 be1 46. b5 + Kc5 0-1