sábado, 10 de dezembro de 2011

1135- Os primeiros passos dos campeões mundiais

Capablanca dando fumo no papi!


Em postagens anteriores falamos do recém Mundial da Juventude da FIDE. Certamente por lá passaram futuros grandes campeões e, quem sabe, campeões mundiais absolutos.
Esta postagem vai ser sobre alguns campeões mundiais quando crianças e adolescentes. Eles também penduravam peças e tomavam mates rápidos! Não acreditam? então, comecemos com uma partida jogada por Mikhail Tal (campeão mundial de 1960 a 1961) contra seu irmão. Tal tinha 9 anos.
COMO EXERCÍCIO, AS PARTIDAS DEVEM SER REPRODUZIDAS MENTALMENTE. AS PRIMEIRAS SÃO BEM FÁCEIS, DEPOIS A CARGA AUMENTA!

Irmão do Tal x Tal- Riga 1945.
1-e4-e5; 2-Bc4-Bc5; 3-Dh5?-Ca6??; 4-Dxf7++.
Bom, o menino Tal aprendeu, não caiu mais nesses mates e quinze anos depois foi campeão mundial!!

Boris Spassky foi o campeão mundial entre 1969 e 1972. Quando tinha 11 anos jogou a seguinte partida:
Boris Spassky x M. Podgaiskii- URSS 1948
1-e4-c5; 2-Cf3-Cc6; 3-d4-cxd4; 4-Cxd4-Cf6; 5-Cc3-e6; 6-Be2-Bb4; 7-Bf3-Da5; 8-C(d4)b5?? e agora as negras jogaram, Spassky caiu em prantos e abandonou!

Agora uma partida jogada em um torneio escolar entre duas futuras estrelas do xadrez (que não suspeitavam disso na época!):
Viktor Korchnoi (17 anos) x Boris Spassky (11 anos)-Leningrado 1948.
1-e4-c5; 2-Cf3-d6; 3-d4-cxd4; 4-Cxd4-Cf6; 5-Cc3-g6; 6-f4-Bg4;
7-Bb5+ -C(b8)d7; 8-Bxd7+ ! -Dxd7 (mentalmente, que jogariam as brancas: a) se 8-...Bxd7?; b) se 8-...Cxd7?); 9-Dd3-e5; 10-Cf3-Bxf3; 11-Dxf3-Dg4? (mentalmente, achem o lance de Korchnoi que levou Spassky a abandonar porque achou que perdia uma peça. Mas não perdia, achem também mentalmente o 12º lance das pretas que não perdia peça!).

O brilhante americano Paul Morphy foi sem dúvida o mais forte jogador de sua época. Suas combinações ainda hoje seduzem os apaixonados pelo xadrez. A partida a seguir foi jogada no dia do 12º aniversário do menino prodígio. E foi jogada às cegas.
P. Morphy x E. Morphy (tio)- Nova Orleans 1849
1-e4-e5; 2-Cf3-Cc6; 3-Bc4-Bc5; 4-c3-d6; 5-O-O-Cf6; 6-d4-exd4; 7-cxd4-Bb6; 8-h3-h6; 9-Cc3-O-O; 10-Be3-Te8; 11-d5-Bxb3?; 12-dxc6-Bb6; 13-e5-dxe5; 14-Db3-Te7? 15-Bxf7+- Txf7; 16-Cxe5-De8; 17-cxb7-Bxb7; 18-T(a1)e1- Ba6; 19-Cg6!- Dd8; 20-Te7. Titio abandonou. Mentalmente: se 20-...Cd5; 21-Cxd5-Txe7 seguiria qual lance das brancas?

Em 1978, uma escolar chamada Maia (devia jogar bem mesmo!) Chiburdanidze tornou-se campeã mundial. Nunca antes na história do xadrez houve uma campeã mundial tão jovem. A seguinte partida mostra quão forte era o jogo de Maia na idade de 12 anos.
M. Chiburdanidze x O. Andreeva (mestra internacional)- URSS 1973.
1-e4-c5; 2-c3-Cf6; 3-e5-Cd5; 4-d4-cxd4; 5-cxd4-d6; 6-Cf3-Cc6; 7-Cc3-Cxc3; 8-bxc3-dxe5?; 9-d5!-e4; 10-Cg5-Ce5; 11-Cxe4-Dc7; 12-Dd4!-Bd7; 13-Ba3!-f6 (mentalmente: se 13-...e6; 14-d6-Da5; 15-Bb4-Dd5 que jogariam as brancas?) 14-d6-Dc6; 15-dxe7-Bxe7; 16-Bxe7-Rxe7; 17-Db4+ -Rf7; 18-f4!-T(h8)e8; 19-fxe5-Txe5; 20-O-O-O!-Txe4; 21-Txd7+! Rf8? espero que a partida até aqui tenha sido reproduzida mentalmente (eu disse que a carga ia aumentar!). Agora, mentalmente achem o bonito lance de arremate de Chiburdanidze. O diagrama antes do arremate faz parte de alguns livros de tática.

O cubano José Raul Capablanca reinou como campeão mundial de 1921 a 1927. Aprendeu xadrez muito precocemente. Um dia, aos 4 anos de idade(!) foi no escitório do pai vê-lo jogar uma partida de xadrez com um amigo. O pequenino ficou fascinado pelos movimentos das peças que seu pai nunca havia ensinado.  No dia seguinte o pai jogava novamente com o amigo e o guri observava tudo em silêncio, quietinho. No terceiro dia, Capablanca viu seu pai jogar um cavalo de uma casa branca para otra casa branca, fato que o amigo nem percebeu. O moleque gritou acusando o pai de trapacear! O pai ficou pau da vida mas a criança imediatamente lhe mostrou o erro que cometeu. O pai não acreditava que o filho aprendera as regras do jogo sozinho, só olhando. Pediu então ao filho para colocar as peças na posição inicial de partida. Capablanca não somente fez isso mas pediu ao pai para jogar uma partida, ganhando a mesma e mais três seguidas! Dias depois, o pai levou o menino de 4 anos para jogar no clube de xadrez onde ganhou facilmente uma partida contra o mais forte jogador (que jogou sem a dama branca).  

fonte: Comprehensive Chess Course-vol II (Lev Alburt/Roman Peltz)

6 comentários:

patricio disse...

Parabéns pela aula de história sobre xadrez.Realmente se nós desejarmos aumentar nossa cultura enxadrística teremos que ler blogs, pois se depender do site da FEXERJ ...

AF Paulo C. Levy disse...

As histórias são bonitas, mas ....

O próprio Capablanca desmentiu que tivesse aprendido a jogar somente olhando o pai jogar ...

Mas como romantismo no Xadrez!

Maiakowsky, um blog sobre xadrez (e algo mais!) disse...

Opa, vivendo e aprendendo.

Qual a fonte dessa tua informação sobre o Capablanca? será que o Lev Alburt (minha fonte) sabia e foi "romântico"?

Maiakowsky, um blog sobre xadrez (e algo mais!) disse...

Pesquisei em várias fontes fidedignas. Todas confirmam que Capa aprendeu vendo o pai jogar.

Fraterno abraço.

Big Alex disse...

Pra quem gosta de Capablanca sugiro obter http://www.amazon.com/Capablanca-Compendium-Correspondence-Illustrations-Materials/dp/0786466340/ref=sr_1_2?ie=UTF8&qid=1323560473&sr=8-2

amazing! :-)

MI Resende disse...

Olá Maia,

Ótimo post! Eu também sempre conto para os alunos esta mesma história de como o Capablanca aprendeu a jogar.

Abraços!