quinta-feira, 11 de setembro de 2008

82- ENTREVISTA COM O GM GIOVANNI VESCOVI!!



ENTREVISTEI O GM GIOVANNI VESCOVI, CANDIDATO A PRESIDENTE DA CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE XADREZ. ESPERO, ASSIM, ESTAR CONTRIBUINDO PARA QUE GIOVANNI POSSA EXPÔR E DETALHAR MAIS SUAS IDÉIAS COMO GESTOR.
ANSEIO QUE MEUS LEITORES APRECIEM A ENTREVISTA!


1-Quais os motivos o levaram a se candidatar à Presidência da CBX?

O primeiro e principal motivo é que eu gosto do jogo de xadrez. Dediquei boa parte de minha vida a este nobre jogo e felizmente fui bastante agraciado por Caissa, com a obtenção de grandes conquistas. Por tudo o que o xadrez me ofereceu, acho que também devo fazer o que estiver ao meu alcance em retribuição. E no momento, tenho certeza que tenho muito a contribuir como Presidente da CBX.

Outro motivo de aspecto emocional é o fato de eu sempre acreditar que o xadrez merece um espaço maior em nosso país, com maior número de praticantes, melhores torneios, divulgação na mídia, condições idéias de treinamento para novos talentos – o que de fato só existiu na ex-União Soviética e bloco de países comunistas, e mais recentemente em países como China, Índia, Turquia – e uma equipe de ponta competitiva. Como todo brasileiro, gostaria de ver o Brasil no topo do quadro de medalhas das recentes Olimpíadas de Pequim; no xadrez a mesma coisa.

É uma característica particular minha o gosto por desafios. Antes de pensar em me candidatar, fiquei pensando o que eu poderia fazer para melhorar o xadrez brasileiro. Depois de desenvolver algumas idéias, decidi que devia lançar minha candidatura. Nossas propostas são bastante ousadas e ambiciosas, e tornar esses projetos uma realidade é, sem dúvida, um grande desafio. Além de toda a motivação, tenho a certeza de que reúno todas as condições para um excelente trabalho à frente da CBX, junto com todos os colaboradores do xadrez brasileiro.
Por fim, há ainda um outro fator: tenho receio de que a CBX volte ao caos administrativo da gestão 2000-2004. Não convém neste espaço lembrar os problemas causados por aquela Administração, bastando lembrar que chegamos a um ponto em que eu e outros jogadores de destaque escrevemos um manifesto (uma carta aberta) e nos recusamos a participar da Olimpíada de Calviá.
Felizmente, aquele movimento resultou numa nova administração, liderada pelo atual Presidente, que fez excelente trabalho focado em colocar a casa em ordem. Seria extremamente negativo para o xadrez brasileiro voltar ao citado caos administrativo.



2-Como você definiria a missão institucional da CBX ?

A missão institucional da CBX é promover o desenvolvimento do xadrez, sob todas as suas formas, em todo o território nacional.

A nossa visão é transformar a CBX na entidade nacional dirigente do xadrez mais atuante no continente americano, criando as condições para a prática saudável do xadrez em todo o território nacional e para o surgimento e desenvolvimento de novos talentos.


3-Quais serão os objetivos e as metas da CBX se você for eleito?

Os principais objetivos são: fortalecer as federações estaduais, aumentar o número de cadastrados, melhorar o nível técnico das categorias de base e de rendimento, incluir o Brasil no cenário do xadrez mundial com a realização de grandes eventos.

Estabelecer metas é sempre uma tarefa difícil. Com relação às federações, a meta é que todas as federações estejam bem estruturadas e consigam organizar seus eventos, prestar as devidas contas às autoridades, e tenham bom relacionamento com o Poder Público, de modo a conseguirem ter sua autonomia e cumprir com seus objetivos.

Com relação ao número de cadastrados, hoje temos cerca de 4 mil cadastrados ativos na CBX. Acho que podemos chegar a 10 mil ou mais. Queremos alcançar aqueles aficionados que acompanhavam o xadrez pelo jornal e que acabaram se distanciando um pouco do jogo. Com relação ao nível técnico, boa parte do progresso nesse ponto depende do jogador, mas com as condições ideais creio que podemos ter medalhistas em Panamericanos de todas as categorias. Com relação aos eventos, a meta é ter um circuito de abertos internacional e um fechado de Rm superior a 2600, com vistas a chegar a 2700. Além disso, impulsionar as federações a organizar torneios de norma de MI e GM, e fortalecer o calendário nacional com torneios por equipes e uma semi-final do brasileiro mais atraente.


4-A prática do xadrez se intensificou com a internet. Como você visualiza o futuro da entidade com as mudanças tecnológicas. Como administrar a continuidade e a mudança simultâneamente?

Acredito que este avanço tecnológico só beneficiou o xadrez. Fica muito mais fácil divulgar o esporte e com alguma sorte essa pressão pode fazer com que outros meios de comunicação voltem a abrir o espaço que já foi nosso. Temos que apenas nos organizar e apresentar números confiáveis.
Além disso, a internet é uma ferramenta que impulsiona o empreendedorismo, e nessa área não compete à CBX se manifestar, já que ainda não é preciso regular esse espaço.


5-Você já tem composta uma equipe de trabalho?

Sim e não. As definições em relação a cargos não foram feitas. Tenho falado com muita gente competente e terei muita gente contribuindo com a Administração. A gestão atual focou na reestruturação da entidade, portanto natural que não se desse nenhum passo maior que a perna, razão pela qual uma estrutura enxuta é a mais adequada. Acho que temos agora a estrutura ideal para levantarmos vôo, e para isso teremos que ser mais dinâmicos e ter muita gente trabalhando. Como teremos atividades em todo o território nacional, todas as Regiões do país estarão representadas na Administração da CBX.


6- Você, se for eleito, vai herdar um bom ativo circulante, devido ao ótimo trabalho de recuperação financeira da atual gestão da CBX. Qual a sua opinião sobre a necessidade de publicação periódica, no site da entidade, de relatórios contábeis e detalhamentos de receitas e despesas?

A CBX é uma entidade sem fins lucrativos, o que não significa dizer que deva ser menos profissional que uma empresa. Aprovo a publicação de balanços.

7-Uma grande questão do xadrez brasileiro é a sua popularização. O que podemos esperar da sua atuação na CBX para que o início da popularização do xadrez no Brasil deixe de ser uma ficção? Neste sentido, podemos contar com uma pressão da CBX junto ao Ministério dos Esportes? O que vai ser prioritário para você: apoio governamental e público ou recursos da iniciativa privada?

O xadrez já é um esporte bastante popular no Brasil. Ele apenas não é devidamente divulgado e apoiado. Há muitos praticantes e muitas pessoas que têm contato com o xadrez. Nesse ponto acredito que devemos apenas prestar atenção para que todos saibam as regras corretamente.
Com relação à captação de recursos, inicialmente o caminho mais natural é junto ao Poder Público, pois já há orçamento destinado aos esportes no Brasil. Tenho convicção de que conseguiremos persuadir as autoridades a reconhecer um espaço maior para o xadrez. Com relação à iniciativa privada, temos agora uma ferramenta, que é a Lei de Incentivo ao Esporte. Um projeto bem elaborado pode ser aprovado rapidamente e a captação dependerá da articulação do dirigente. O relacionamento pessoal facilita o contato com grandes empresas, e tenho certeza que as pessoas que estarão na nossa Administração podem ajudar.


8-Uma crítica que se ouve da atual gestão da CBX é que ela teve um foco muito acentuado nos GM´s e se esqueceu um pouco da base. Você tem algum posicionamento em relação a esta crítica?

Essa é uma percepção equivocada da realidade. Não houve favorecimento acentuado aos GMs. Vi muitos jogadores MI e outros sem título jogando em Cuba, Argentina, Uruguai etc. Não vi muitos GMs viajando com apoio da CBX. Lembro-me de eu ter jogado na China em 2006, o Rafael na Alemanha, o Mequinho na Romênia, mas até aí, nenhum excesso. Também em 2006 a equipe olímpica masculina teve um treinamento com o Dvoretsky.
A Semana GM é um evento voltado às federações e aos jogadores de base, e não ao GM. É a forma encontrada para motivar novos talentos e divulgar o trabalho das federações.
Por outro lado, a CBX procurou enviar um GM nos Panamericanos de 2007 e 2008. Os eventos do calendário continuam sendo organizados e o Brasil tem sido representado em torneios internacionais de menores. Concordo que há mais a ser feito pelas categorias de base, mas não creio que tenham sido tão esquecidas assim.
A verdade é que nunca foi feito um trabalho voltado às categorias de base. Organizar um panamericano ou mundial é importante, mas não é isso que ajuda nossos jogadores. Tenho a esperança de conseguir coordenar um trabalho de treinamento sem precedentes.

9-Na sua visão, como está o desenvolvimento do xadrez brasileiro em termos regionais? Tem acompanhado o desenvolvimento de federações do norte/nordeste ?

Acho que tem muita gente trabalhando em prol do xadrez no Brasil. Vejo muita atividade em estados do NE como Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco. A Bahia também tem um trabalho muito bem feito, e esse pude acompanhar pessoalmente algumas vezes. No entanto, minha percepção é de que em geral falta alguma coisa para se chegar ao sucesso. Falta uma “pitadinha” de algo que espero poder ajudar a encontrar.
A região mais isolada é naturalmente o Norte. As pessoas costumam apenas apontar os pontos fracos, mas é preciso ressaltar os pontos fortes. E com essa abordagem podemos reverter essa situação.
Mas de uma forma geral acho que há muito a progredir.


10-Um comentário que já ouvi é de que você não possui experiência administrativa. Como você refuta este comentário? Quais as razões que o levariam a afirmar que a sua candidatura é a melhor para o xadrez brasileiro?

Numa carreira as responsabilidades aumentam conforme a capacidade da pessoa. Aquele que mostra capacidade passa a ocupar cargos de comando. Quando um executivo chega à presidência de uma empresa pela primeira vez, ninguém fala para ele sobre sua inexperiência. Ou ele responde à altura, ou ele acaba sendo substituído. A CBX não é uma empresa, mas o raciocínio é o mesmo. Na Administração 2000-2004 tivemos um exemplo de uma gestão que apresentou resultados abaixo do esperado. Ter esse tipo de experiência administrativa seria pior que nenhuma experiência.
Muita gente tem experiência administrativa. Temos milhões de empresários no Brasil. Para ocupar um cargo importante a pessoa deve demonstrar capacidade técnica e experiência, que é baseada nos resultados que ela produziu.
Já vi eventos de xadrez em todos os lugares do mundo, já conversei e almocei com campeões mundiais, presidentes de federações nacionais e presidente da FIDE, ajudei na organização dos torneios mais fortes do continente americano – no Brasil e no exterior, já vi jovens talentos se perdendo e evoluindo no mundo todo, em mais de 20 anos. Essa vivência já pode ser considerada bastante importante para quem pretende ocupar o cargo de presidente da CBX.
Mas além disso, eu também tenho resultados. Quando eu traço objetivos, eu me esforço para alcançá-los. Eu queria jogar bem xadrez, e para isso me dediquei muito, passei várias férias escolares estudando finais, investi tempo e dinheiro. Certo dia, resolvi que queria aprender a falar russo. Fui autodidata e aprendi esse idioma. Quando o Kasparov me pediu para ajudá-lo a publicar seu livro em português, eu trabalhei dois meses sem parar, e traduzi um livro de 450 páginas do russo para o português. Com relação à minha formação acadêmica e profissional, desde a época da escola, e apesar das inúmeras faltas, sempre fui um dos melhores alunos e felizmente estou exercendo uma profissão que me agrada bastante. Sou advogado com foco na área internacional, societária e tributária, e pretendo me especializar em fusões e aquisições.
Acho que sou competente naquilo que me proponho a fazer e se eu não achasse que tenho condições de ser um bom presidente, eu nem me candidataria.


QUERO AGRADECER MUITO AO GM GIOVANNI VESCOVI POR TER CONCEDIDO A ENTREVISTA PARA ESTE BLOG.

Um comentário:

silvio henriques disse...

Fiquei com ótima impressão do candidato. Gostaria, inclusive, de poder votar nele. Bastante equilibrado, acima de tudo, e consciente da realidade do xadrez brasileiro. Parabéns Maia, pela entrevista.
Candidato Vescovi, sou Silvio Henriques, aquele que, em Tiradentes (MG), por ocasião do brasileiro sub8 e sub10 deste ano, recebeu um autógrafo seu na caixa do meu relógio de xadrez.
Um abraço do Silvio e sucesso!