terça-feira, 30 de setembro de 2008

88- Questões de Arbitragem X (Ética e Educação)

Falta de ética – Jogador abandona partida numa situação em que somente ele tem material para dar mate
Pergunta 58: Numa partida, o jogador com várias peças brancas abandona e entrega a planilha com o resultado 0x1. Seu adversário não tem material para dar mate. O que decide o árbitro?


Resposta: Sem dúvida trata-se de uma situação anormal. O árbitro não pode aceitar a vitória de um jogador que não tem material para dar mate. O resultado da partida neste caso deve ser 0 (perda da partida face ao disposto no art. 12.1 da lei do xadrez) para o jogador das brancas e meio ponto para o jogador adversário.
No relatório final deverá enquadrar o jogador das brancas no artigo 12 da Lei, por falta de ética.
”Art. 12 Os jogadores não poderão praticar nenhuma ação que desrespeite ou cause má reputação ao jogo de xadrez.”

Falta de ética – Jogador coloca seu rei em casa ao lado do rei adversário
Pergunta 59: Dois jogadores estão em apuro de tempo numa partida de xadrez relâmpago. O jogador A tem rei na casa c6 e peões nas casas c7 e a5; jogador B tem rei na casa e6. O jogador B tem a vez de jogar e, com grande velocidade coloca seu rei na casa (encostando rei com rei). O jogador A com a seta pendurada automaticamente joga c8=D. O jogador B captura o rei branco e declara-se vitorioso. Está correto? As pretas venceram?

Resposta: Este deplorável truque é bem conhecido e só acontece em partidas de blitz. É sem dúvida, aética a atitude do jogador das pretas que pode até ser penalizado com a perda da partida (se agiu dolosamente) por ter tentado ludibriar o seu adversário. Além disto, seu lance vai de encontro ao disposto nos artigos 1.2, 7.4 a, 12.1. Conclusão: O árbitro deverá, nos casos da espécie, decretar imediatamente a derrota do jogador B, que conduzia as peças pretas.

”Art. 1.2 – in fine – Não é permitido deixar ou colocar o seu próprio rei sob ataque ... ”. ”Art. 12.1 - Os jogadores não poderão praticar nenhuma ação que cause má reputação ao jogo de xadrez."
”Art. 13.4 - O árbitro pode aplicar uma ou mais das seguintes penalidades:
a) advertência,
b) aumentar o tempo remanescente do oponente,
c) reduzir o tempo remanescente do jogador infrator,
d) declarar a perda da partida,
e) reduzir os pontos ganhos na partida pelo jogador infrator,
f) aumentar os pontos ganhos na partida pelo oponente até o máximo possível para aquela partida,
g) expulsão do evento."

Falta de ética ou de educação?
Pergunta 60: Na nossa cidade existe um jogador fedorento que não cuida da higiene pessoal, não toma banho, não escova os dentes e por isso tem péssimo hálito e fede mais que um híbrido de bode com gambá. O árbitro pode aplicar alguma punição para esse jogador ‘catinguento’ que não tem nenhum asseio, se durante a partida ele ficar "bufando" em cima perturbando a concentração do indefeso adversário?

Resposta: Esta é uma das questões que costumam causar constrangimento e quase ninguém ‘ousa’ falar nisso.
O jogador "fedorento" que, deliberadamente, não toma banho, tem bafo de bode, não escova os dentes, etc., causa irritação ao adversário e transtorno para árbitros e jogadores, que estão eventualmente atuando na chamada ‘área de risco’, bem como a organizadores de torneios.
Não importa se o jogador em questão é contumaz em dar insuportáveis baforadas justamente nos apuros de tempo do adversário. Mesmo em qualquer momento de reflexão do adversário isso pode e deve ser encarado como uma perturbação.
E o árbitro não pode se omitir em situações dessa natureza!
É evidente que o jogador que se propõe a jogar uma partida em tais condições certamente estará incomodando o adversário se, para tanto, age de modo intencional, devendo ser penalizado pelo árbitro, por infringir disposto no artigo 12.6 da Lei do Xadrez.
É conveniente lembrar que o artigo 13.4 da Lei do Xadrez traz em seu bojo um elenco de penalidades que podem e devem ser aplicadas ao jogador que está perturbando o adversário e criando embaraços à arbitragem.
”Art. 12.6 da lei do Xadrez - É proibido distrair ou perturbar o oponente de qualquer maneira ...”.

Falta de ética ou de educação – Jogador fedorento perturba o adversário
Pergunta 61: O jogador fedorento, com mau-hálito e que dá bufadas durante o jogo.
Qual seria a punição para esse jogador? Que atitudes o árbitro tomaria?
O artigo 12.6 da Lei do Xadrez proíbe que o jogador distraia ou perturbe o adversário de qualquer forma.

Resposta: Indubitavelmente, o jogador que dá baforadas no adversário está transgredindo a lei e deve ser penalizado.
Para aplicar ao infrator, o árbitro tem a seu dispor variado elenco de penalidades.A punição dependerá da gravidade situação e da perturbação provocada.
É claro que o árbitro deve levar em conta, também, o comportamento pregresso do infrator.
Em tese, a penalidade pode variar desde a concessão de tempo para o adversário até a aplicação ao infrator da perda da partida.

Fator tempo – No blitz é justo que um jogador jogue sem plano, só para ganhar no tempo?
Pergunta 62: Numa partida de blitz (relâmpago), é justo que um jogador jogue sem plano, valendo-se somente da sua superioridade no tempo, para vencer uma partida que está teoricamente empatada, por exemplo?


Resposta: No blitz, o fator tempo é muito mais importante que nos ritmos de pensado e rápido.

Tanto isso é verdade, que o apêndice C2 veda, no blitz, as reivindicações de empate com base no art. 10.2 da Lei do Xadrez.

Assim, o jogador que estiver pior no tempo não pode reivindicar empate, por estar numa posição equilibrada (bispos de cores opostas, por exemplo), ou em superioridade de posição, ou mesmo alegando xeque-perpétuo. No blitz, o xeque perpétuo não acarreta o empate, a não ser com a concordância do adversário.

Melhor dizendo, pedir é possível, mas o árbitro deve determinar que a partida tenha continuidade.

Logo, o jogador inferiorizado no tempo, somente terá sucesso na sua reivindicação de empate, na hipótese de o adversário não possuir material para dar mate. (vide apêndice C3 da Lei do Xadrez)

Se ocorrer a queda de seta, o jogador, simplesmente, perde a partida, a não ser que o adversário não tenha material suficiente para dar mate. Isso é regra geral.

Isto porque, no blitz, o jogador não tem a obrigação de se esforçar para ganhar por meios normais, como por exemplo, forçar o xeque mate. Ele pode, até mesmo, repetir posições para ganhar pelo tempo, mesmo porque, a partida de blitz não é anotada.

É injusto? Pode-se dizer que não! porque o fator tempo é o mais importante nesta modalidade.

Blitz não é xadrez no sentido "puro". O vencedor no blitz é, em geral, aquele com maior habilidade manual. Nos clubes virtuais da internet, o vencedor costuma ser aquele, com maior agilidade no manejo do mouse.
É claro que o internauta ‘ligeirinho’ corre o perigo de virar estatística da síndrome do LER.

E o árbitro não pode decretar empate a não ser nessas situações de falta de material.

Mesmo na famosa ‘posição de empate’ rei e peão de torre contra rei, o árbitro deve deixar a partida prosseguir, até que o jogador afogue o rei do adversário. Se a seta do jogador com rei nu, cair antes, ele simplesmente perde a partida.

Muitos acham estranho, mas é isso que diz a Lei do Xadrez, atualmente em vigor.

Fator tempo - Blitz - O árbitro pode decretar empate se o jogador exigir alegando xeque-perpétuo?
Pergunta 63: Li a sua resposta anterior, no entanto, não pude concordar com sua interpretação de que o arbitro não possa decretar empate nem, por exemplo, em uma posição de xeque perpétuo, onde facilmente pode-se constatar a repetição. Acho inclusive que no Brasil boa parte dos árbitros tem se equivocado em decisões relativas as partidas de blitz ... espero que meu e-mail possa contribuir para o debate e, conseqüentemente, maior aprofundamento e compreensão do tema. Para finalizar gostaria de ressaltar que as respostas às questões de arbitragem dadas no site, tem-se tornado referência para os enxadristas brasileiros, por isso minha preocupação quanto à resposta dada e sua possível utilização nas tomadas de decisão em diferentes torneios.

Resposta: Reconheço que essa questão é mesmo polêmica.
Respeito a sua opinião, mas continuo a afirmar que o jogador só não perde a partida, nas situações da espécie, se o adversário não tiver material para dar mate (logicamente depois de o adversário, com a seta ainda em pé, acusar a queda de seta).

A lei não faculta a nenhum dos jogadores exigir empate, simplesmente, pelo fato de a posição estar-se repetindo. Isto porque - também no blitz - não existe a figura do xeque-perpétuo.

Além disso, no blitz, ao contrário do que acontece no pensado, o tempo é fator preponderante e decisivo! E o árbitro também não pode precipitar-se decretando empate mesmo porque não teria respaldo legal para intervir na partida e tomar tal decisão.

Enfim, o que se quer dizer é que o legislador, ao elaborar o apêndice C, levou em conta a característica inegavelmente marcante e decisiva do blitz, qual seja, o fator tempo!
OBS: Na resposta anterior não foi abordada a questão do xeque perpétuo.
O árbitro só pode intervir nos casos previstos em lei.

Fator tempo - Blitz – Existe empate pela repetição de lances
Pergunta 64: Recentemente participei de um evento como técnico de equipe e durante uma partida de estilo relâmpago (5 minutos), vi um atleta realizando várias vezes a mesma posição no tabuleiro, um verdadeiro vai-e-vem da peça, aguardando a queda de seta. Existe empate pela tripla repetição de lances no estilo relâmpago?

Resposta: A lei do xadrez não regula a figura do "xeque perpétuo".Xeque perpétuo, não existe (!) como costuma dizer, com muito senso de humor, o Presidente do Comitê de Arbitragem da FIDE. Por falta de amparo legal, o árbitro não pode intervir espontaneamente numa partida de blitz, também conhecida como relâmpago ou ping, nos casos de repetição de posição.A lei é clara (!), parafraseando conhecido árbitro de futebol: A reclamação com base em repetição de posição (ou na regra dos 50 lances) só prospera se houver uma planilha. E ninguém joga blitz anotado!

Final Acelerado – Quickplay Finish – Conceituação
Pergunta 65: Li algumas das questões sobre arbitragem no site xeque.net, e gostaria de saber o que significam as partidas de quickplay finish!”

Resposta: Quickplay finish ou final acelerado ou 'at finish' ou guilhotina é a fase de uma partida quando todos os lances (remanescentes) devem ser efetuados num determinado limite de tempo.
Exemplificando: se o ritmo de jogo for 2 horas para 40 lances mais uma hora nocaute, haverá 2 fases de jogo. Na primeira fase, cada jogador terá de realizar 40 lances em 2 horas. Na segunda fase, os jogadores deverão realizar todos os lances remanescentes em 1 hora mais o tempo que foi poupado na primeira fase.
Essa segunda fase é chamada de ‘quick play finish’.

Insubordinação – Jogador desrespeita o adversário e árbitro
Pergunta 66: Um jogador pede a presença do árbitro para informar que o adversário efetuou o 3º lance impossível. Porém, esta é a primeira vez que o árbitro é chamado para anotar a penalidade. O jogador informa que seu adversário cometeu a terceira. O árbitro questiona o seu adversário e este mantém-se em silêncio (não admitindo nem que sim, nem que não) e diz ao reclamante que era sua a responsabilidade de chamar o árbitro, já que esta era a primeira vez do árbitro ao tabuleiro. O reclamante, então, levanta-se da mesa e acusa seu adversário de má-índole, uma vez que aquele deveria admitir que havia feito o terceiro lance. Pergunto: o reclamante poderia ser penalizado pelo árbitro devido à sua conduta com a perda da partida (ou exclusão do torneio)? E, além disso, perdeu completamente a razão por não ter chamado o árbitro desde o primeiro lance ilegal? Como fica o resultado da partida, sendo que a mesma encontrava-se no meio-jogo?”.


Resposta: A atitude do reclamante é típica do jogador indisciplinado que não respeita o adversário, o árbitro, nem ao xadrez.
O árbitro deve aplicar uma das sanções previstas no artigo 13.4 da Lei do Xadrez.
O grau da punição depende do comportamento do reclamante durante a partida.
Se a punição merecida for a perda da partida, o árbitro deverá determinar o escore do adversário.

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