Segue novo texto produzido pelo prof. Alfredo Santos (vejam notas nº 08 e 45). Boa leitura, excelente semana a todos!
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No texto anterior fiz algumas considerações sobre o xadrez no Rio de Janeiro, cuja especificidade é de tal ordem que me surpreende. Para ser franco, eu acho que um estado que é (ou foi) considerado a capital cultural do país, capital da república durante décadas, deveria apresentar valores e resultados enxadrísticos compatíveis com essa tradição. Tal não é o que ocorre.
Eu costumo brincar dizendo que a palavra que denota o nosso jogo predileto, em nosso idioma, tem a infelicidade de se confundir com a que designa o local onde os presos são recolhidos. E é essa analogia que deve fazer com que alguns políticos tenham reflexos pavlovianos de pavor ao ouvi-la, pois temem que o xadrez (a prisão, e não o jogo) seja o seu destino inexorável.
O Rio de Janeiro, como você sabe, é um lugar onde a contravenção circula com a maior desenvoltura por todos os lugares e a promiscuidade desta com a classe política é fato amplamente conhecido. Não raro se descobre que figuras da política e da administração pública, tidas durante algum tempo, como pessoas acima de qualquer suspeita, não passam de reles criminosos.
Eu não sei se essa decadência da nossa vida política, a degradação dos nossos valores e dos nossos gostos, pode explicar o nível do xadrez carioca, cujos resultados, por maiores que sejam a defesa e a apologia que deles fazem os dirigentes enxadrísticos, estão bem abaixo do que seria de se esperar. Não sei a quantas anda o jogo por São Paulo. Mas tenho uma espécie de convicção de que por lá as coisas caminham melhor. Sendo isso verdade, quais seriam as causas? Seria a maior pujança econômica do estado? Seriam os dirigentes enxadrísticos mais competentes? Existem mais empresas dispostas a patrocinar eventos? O ensino do xadrez nas escolas é coisa bem feita? É maior o número de clubes que tenham espaços para o xadrez? Joga-se-o nas praças e jardins?
Rio de Janeiro, 28 de junho de 2008.
Alfredo Pereira dos Santos.
Um comentário:
A má administração pública é, de fato, preocupante. Mesmo sem ter o xadrez nas escolas efetivamente, ela já foi capaz de gambitos até com a merenda escolar.
Preocupa-me, então, o fato do xadrez se tornar instrumento oficial (no RJ, por exemplo, de acordo com a lei estadual citada no post 45) para mais injustiças.
Ao invés de popularizar o xadrez como jogo, acabaria por enfatizar o significado mais negativo de seu duplo sentido.
Leo Mano
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