Para enriquecer nosso final de semana, posto aqui novo texto do prof. Alfredo Santos, brilhante como sempre!
O texto veio bem a calhar em função do alto grau de insanidade mental que vêm apresentando algumas pessoas no nosso Xadrez-Pólis.........
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DROGA POR DROGA FIQUE COM O XADREZ
Alfredo Pereira dos Santos
Num trabalho intitulado “Jogo patológico, uma revisão da literatura” a psicóloga Tatiana Avelino dos Santos afirma que existe uma forma de jogo que nada mais é do que uma tóxico-dependência que subsiste sob uma máscara de pseudo-aceitação social.
Jogar nem sempre é patologia. O jogar é uma atividade prazerosa que potencia a obtenção de competências relevantes para o desenvolvimento do ser humano (Villa & Canal, 1998). Daí a importância do jogo (e do xadrez, em particular) como atividade, dentro ou fora da escola.
Assim como existe o bebedor social, existe também o alcoólatra. E alcoolismo é doença. No jogo ocorre a mesma coisa. Existem aqueles que jogam para se divertir e existem aqueles para os quais o jogo é compulsão, obsessão. O que também é doença. Durante muito tempo não se atentou para esses aspectos do jogo mas, em 1980, a “Associação Americana de Psicologia” o inclui no seu “Manual de Desordens Mentais”.
Segundo alguns estudiosos da matéria existem quatro tipos de jogadores:
1 – O jogador social, que joga ocasionalmente e tem controle sobre a situação.
2 – O jogador profissional, que tem algum controle porque joga com outra motivação, a sua profissão depende disso e a sua atuação está bem fundamentada.
3 – O jogador problema, que já apresenta alguns sinais do jogador patológico, mas não de forma que possa ser considerado como tal.
4 – O jogador patológico.
Nessa última categoria estão três subgrupos. O maior deles, com quase a metade do total, sofria de graves perturbações da personalidade, 29 por cento apresentavam relações pessoais fortemente debilitantes e, aproximadamente, 22 por cento padeciam de sérias desordens psiquiátricas, como esquizofrenia ou perturbação bipolar. Por outro lado, alguns estudos apresentam o jogador patológico como o mais enérgico e com inteligência acima da média.
Os psicanalistas foram os primeiros a oferecer explicações para o jogo patológico. O primeiro estudo sobre o tema foi conduzido por Hattinberg, em 1914. Segundo ele o jogador patológico erotiza a tensão e o medo envolvido no ato de jogar. Isso acontece, segundo ele, porque este tipo de jogador apresenta uma fixação na fase anal do seu desenvolvimento psicossexual, o que explica a faceta compulsiva e masoquista da sua personalidade.
Tais observações nos remetem ao conhecido livro “A psicologia do jogador de xadrez”, do Reuben Fine, um grande mestre de xadrez que deixou o jogo para se dedicar à psicanálise. Não vou falar sobre o livro, que considero leitura obrigatória para qualquer enxadrista. Fico apenas na referência, na confluências das observações encontradas no livro do Fine com a de outros autores.
No final do seu trabalho, Tatiana fala sobre o xadrez e cita uma frase do Kasparov: “O xadrez é tortura mental”. Em seguida faz outra citação, esta de Reider que, em trabalho de 1959, intitulado “Chess, Oedipus and the Mater Dolorosa”, publicado no “International Journal of Psycho-Analysis, 40, 320-334“, diz o seguinte: “Nenhum tipo de jogo fornece à psicanálise tantas oportunidades de investigação e estudo como o xadrez”. Trocando em miúdos, o xadrez e os enxadristas são um prato cheio para os psicólogos.
Tudo o que escrevi até agora foi preâmbulo à conclusão a que cheguei lendo o trabalho da psicóloga Tatiana. Ela cita autores que afirmam que se pode mudar o foco da dependência passando, por exemplo, do álcool para o jogo compulsivo ou da cocaína para o álcool.
Daí então a luminosa idéia que me veio à mente. E quem não achar pode me esculhambar à vontade que eu tenho carapaça de rinoceronte e agüento as pancadas.
É o seguinte: notícias recentes nos dizem que está havendo aumento do consumo de drogas no Brasil. Vejam essa notícia da Agência Brasil:
Brasília - O aumento no consumo de cocaína e maconha no Brasil apontado pelo Relatório Mundial sobre Drogas 2008, do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (Unodc), não representou “nenhuma surpresa” para o secretário Nacional Antidrogas, general Paulo Uchôa, diante dos números apresentados por nações vizinhas.
Confiram em:
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/06/26/materia.2008-06-26.2414838693/view
E na página do jornal O GLOBO saiu o seguinte:
O Relatório Mundial sobre Drogas de 2008 informa que o Brasil tem cerca de 870 mil usuários de cocaína e que o consumo aumentou de 0,4% para 0,7% entre pessoas de 12 a 65 anos, no período entre 2001 e 2004, o equivale a créscimo de cerca de 75%. O Brasil é o segundo maior mercado das Américas, com 870 mil usuários, atrás apenas dos Estados Unidos, com cerca de seis milhões de consumidores.
Confiram em:
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/06/25/brasil_tem_870_mil_usuarios_de_cocaina_relatorio_da_onu_indica_aumento_no_numero_de_usuarios_de_drogas-546963088.asp
Estes números indicam que a sociedade brasileira padece de graves patologias, que se manifestam das mais diferentes maneiras. Além das drogas ilícitas temos: corrupção, violência, injustiças sociais, políticos sem-vergonha, e por ai vai. Sem falar no que Reich chamava de “doença sexual das massas”, o que fica bem caracterizado no sucesso de programas tipo Big Brother Brasil que, se algum mérito tem, é o de poder medir o tamanho da perversão sexual, conhecida como voyeurismo, existente na nossa população. Não se pode esquecer também da dependência televisiva. Sim, pois a televisão é também uma droga e cria dependência.
O fato é que vivemos numa sociedade de adictos, o que faz sentido, pois se a realidade (interna ou externa) é insuportável e o indivíduo não consegue ver “a luz no fim do túnel” não lhe resta alternativa que não seja a de criar um mundo que lhe seja menos doloroso. Naturalmente que a falta de conhecimento próprio (o nosce te ipsun socrático), do mundo e do semelhante agrava o quadro, posto que justamente tira ao indivíduo a possibilidade de “ver a luz no fim do túnel”.
Como muitos argumentos usados pelos que fazem a apologia do jogo, no sentido de induzir as pessoas a praticá-lo, não me parecem muito convincentes, arrisco-me, ainda que com pitadas de galhofa, a propor mais um (que não exclui a possibilidade da adoção das medidas terapêuticas cabíveis em cada caso):
DROGA POR DROGA FIQUE COM O XADREZ
Veja o que o xadrez pode fazer por você:
1 – Dificilmente você vai morrer de overdose.
2 – A polícia não vai lhe prender ou achacar por você estar jogando ou portando um tabuleiro com as peças.
3 – Você não precisará jogar escondido no banheiro.
4 – O xadrez não vai lhe causar impotência sexual.
5 – No xadrez você poderá dar expansão às suas fantasias eróticas, pois, como dizia o Machado de Assis, “é um jogo onde todos comem a todos” (se bem que o grande Machado errou: o Rei ninguém come).
6 – Você não precisará chegar até a “boca de fumo” ou ao pé do morro para obter a sua dose de fuga à realidade. O xadrez vai lhe dar menos trabalho e vai sair mais barato.
Bom, essas foram algumas vantagens que me vieram à mente. Creio que está de bom tamanho, mas quem quiser pode contribuir com outras.
Obrigado pela atenção e aguardem as cenas dos próximos capítulos.
Rio de Janeiro, 10 de julho de 2008
2 comentários:
Gostei muito de seu blog.Já está entre meus favoritos.
Abraços!
Armando Scharlau Pereira.
Maia,
Adorei esse texto!
Parabéns!!!!
Abraço,
Lorene Leitão
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