quinta-feira, 29 de outubro de 2009

405- Momento Maiakowsky de Fábulas

O FUNERAL DA LEOA

Tendo o leão perdido subitamente a sua rainha, todos se apressaram a mostrar fidelidade ao monarca oferecendo-lhe consolo. Mas infelizmente esses cumprimentos só estavam deixando o viúvo mais aflito.
Noticiou-se por todo o reino a hora e o lugar do funeral , os oficiais receberam ordem para ficar de prontidão, dirigir a cerimônia e distribuir as pessoas segundo seus respectivos níveis na sociedade. Pode-se bem imaginar que não faltou ninguém. O monarca deu vazão a sua tristeza e toda a caverna, visto que leões não têm outros templos, ressoava com seus lamentos. Seguindo o seu exemplo, todos os cortesãos rugiram nos seus diferentes tons. A corte é um lugar onde todos ficam tristes, alegres ou indiferentes de acordo com o príncipe reinante; ou, se alguém não se sente assim, pelo menos tenta parecer que sente; todos procuram imitar o senhor. Diz-se que uma só cabeça anima milhares de corpos, mostrando nitidamente que os seres humanos não passam de máquinas. Mas voltemos ao nosso assunto. Só o veado não chorava. Como ele era capaz disso, realmente?
A morte da rainha era uma desforra para ele; ela havia estrangulado a sua esposa e o seu filho. Um cortesão achou justo contar ao consternado monarca, e até afirmou ter visto o veado rir. A ira de um rei, diz Salomão, é terrível, principalmente a de um rei-leão. "Miserável forasteiro!", exclamou, "ousas rir quando todos a sua volta se desfazem em lágrimas? Não sujaremos nossas garras reais com seu sangue profano! Vingarás, bravo lobo, a nossa rainha imolando esse traidor a sua augusta alma?"
Ao que o veado respondeu: "Senhor, já não é mais hora de chorar, a tristeza aqui é supérflua. Vossa reverenciada esposa acabou de aparecer para mim, repousando sobre um leito de rosas; eu a reconheci instantaneamente. 'Amigo', ela me disse, 'termine essa pompa fúnebre, faça cessar essas lágrimas inúteis. Provei milhares de delícias nos campos Elísios, conversando com santos como eu. Deixe que o desespero do rei permaneça por uns tempos incontido, ele me gratifica' ". Mal ele havia falado, quando alguém gritou: "Um milagre! Um milagre!". O veado, em vez de ser punido, recebeu um belo presente. Deixe que o rei sonhe, teça-lhe elogios, e conte-lhe algumas mentiras agradáveis e fantásticas: por mais indignado que ele esteja com você, engolirá a isca e fará de você o seu melhor amigo.
FÁBULAS, JEAN DE LA FONTAINE, 1621-1695.

6 comentários:

Paulo Goulart disse...

Mestre Maia,
com 45 anos de vida, não posso dar-me ao luxo de enganar-me. Tampouco desprezar a mais etérea das esperanças. Aprendi uma lição importante na re-construção de nossa democracia: a importancia da aliança entre a esquerda e o centro, na pessoa de Tancredo... Em minha juventude, demonizei tal infâmia e aplaudi os radicais. Hoje, com as cãs já enevoadas pelo tempo, agradeço aquele ato político, sem o qual não teríamos chegado até aqui.
Espero sinceramente que deixemos a estrada livre para alguns artesãos arrependidos, com eles poderemos mudar algo, pois o que ganhariam se oferecêssemos apenas a guilhotina?

Xadrez Opinião disse...

Verdades ditas pelo Goulart.

Todavia, todos os movimentos, como aprendemos no xadrez, tem seu tempo para serem realizados.

Alguns se arrependerão, falsamente, depois que o barco já tiver fazendo água.

Mantermo-nos vigilantes frente àqueles que tentarão recompor as pontes que atearam fogo é primordial para que o novo não surja manchado.

Celso Renato disse...

Só o tempo poderá dizer, mas cautela faz parte do repertório dos prudentes.

XADREZ CARIOCA disse...

Caro Maia,

diz a sabedoria popular que REI MORTO, REI POSTO.

Diz o frescor dos acontecimentos contemporâneos que REI, EMBORA VIVO, PODE SER POSTO, no seu devido lugar.

AMORIM

Kleber Victor disse...

O Xadrez no nosso estado chegou a uma situação tal, que não cabe mais falar de situação ou oposição, e sim de sobrevivência ou naufrágio! A decisão de abandonar ou não um navio que se mostra a deriva e a ponto de naufragar é pessoal de cada "tripulante", e creio que os que tenham um mínimo de bom senso já começam a se perguntar, se vale a pena continuar a qualquer preço? Mesmo que p/ isso tenha que se ver desmoronar o pouco que restou do xadrez no estado.
Esse ano rodei o Brasil, jogando torneios no Norte, Nordeste e Sudeste e pude ver que perdemos a posição de destaque nacional que o Rio sempre teve, Estados com o mínimo de recursos conseguem fazer mais que o nosso, apoiam aos seus atletas infantis a participarem de eventos nacionais, organizam eventos de cunho nacional e etc.
O Rio perdeu o contato que tinha com a CBX, ficou isolado e a tendência é o quadro se agravar nos próximos anos..., antes de se pular ou não do navio, cabe se perguntar se ainda existe o navio, ou o mesmo já naufragou e guardamos apenas uma vaga lembrança na memória...

Paulo Goulart disse...

Mestre Kléber,
sua analogia é muito pertinente. O Barco...afundando. No entanto, precisamos enfatizar isso, o Xadrez não morrerá nunca. Testemunhei isso na quantidade de pessoas que estavam no Interclubes, muitos abnegados e teimosos.
O que falamos aqui é quanto à entidade que se diz dirigente do Xadrez atual. Essa, sim, afundando inexoravelmente. A partir daqui temos duas visões no navio da FEXERJ: A dos tripulantes(membros da atual diretoria e clubes) e a dos passageiros(jogadores). Esses já fizeram sua escolha, querem jogar...
Aqueles perceberam que é preciso re-fundar a nau, pois precisamos viajar aos paraísos de Caíssa.
Esse é o tempo...sem medo de ser feliz! Vamos unir os que querem que as mudanças aconteçam e chegar a um projeto que tenha a credibilidade de todos.
Quem sonhou com um Brasil diferente e hoje vê o Lula Lá, não tem o direito de desistir...
Estou nessa!!!